Português





Oficina:
Leitura e Produção
de Texto
Redação







1. Forme grupos de 5 componentes.
2. Continue os textos que começam com os versos:

a)Se esta rua,
se esta rua fosse minha....

b) O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada .....

c) Batatinha quando nasce....

d) Cai cai balão....

3. Em sua opinião, estes textos tornaram-se conhecidos por meio da fala ou da escrita?


4. Cite outros exemplos de textos populares.


5. Você sabe o que são quadras ou quadrinhas? Exemplifique.


6. Leia a quadrinha:

Menina dos olhos grandes,
olhos grandes como o mar,
Não me olhes com seus olhos
Para eu não me afogar.

(quadra Popular do Rio Grande do Sul)

a) Para você as quadras podem ser consideradas poemas? Por quê?

b)De quantos versos cada quadra é formada?

c) Qual nome se dá ao recurso poético que os versos terminam com o mesmo som?

7. Qual é o assunto da quadrinha que você leu?

8. Que tal você fazer uma quadrinha? Utilize um tema de sua preferência.

















 

Absurdo - Vanessa da Mata

Havia tanto pra lhe contar
A natureza
Mudava a forma o estado e o lugar
Era absurdo
Havia tanto pra lhe mostrar
Era tão belo
Mas olhe agora o estrago em que está
Tapetes fartos de folhas e flores
O chão do mundo se varre aqui
Essa idéia do natural ser sujo
Do inorgânico não se faz
Destruição é reflexo do humano
Se a ambição desumana o Ser
Essa imagem infértil do deserto
Nunca pensei que chegasse aqui
Auto-destrutivos,
Falsas vitimas nocivas?
Havia tanto pra aproveitar
Sem poderio
Tantas histórias, tantos sabores
Capins dourados
Havia tanto pra respirar
Era tão fino
Naqueles rios a gente banhava
Desmatam tudo e reclamam do tempo
Que ironia conflitante ser
Desequilíbrio que alimenta as pragas
Alterado grão, alterado pão
Sujamos rios, dependemos das águas
Tanto faz os meios violentos
Luxúria é ética do perverso vivo
Morto por dinheiro
Cores, tantas cores
Tais belezas
Foram-se
Versos e estrelas
Tantas fadas que eu não vi
Falsos bens, progresso?
Com a mãe, ingratidão
Deram o galinheiro
Pra raposa vigiar
1. Leia o texto e responda:
a) Os fatos apresentado no texto podem ocorrer na nossa realidade atual? Justifique sua resposta.
b) Enumere os fatos narrados.
c) Por que desmatam tudo e depois reclamam do tempo?
d) Qual o tempo verbal predominante na letra da música?
Obs: Passar o clipe da música antes de trabalhar o texto.


Bullying: brincadeiras que ferem

Ameaças, agressões, humilhações... a escola pode se tornar um verdadeiro inferno para crianças que sofrem nas mãos de seus próprios colegas, ainda mais nos dias de hoje, em que a internet pode potencializar os efeitos devastadores do bullying. Você sabe o que é isso? Onde e como ele ocorre?

Você já ouviu falar de bullying? O termo em inglês pode causar estranhamento a muita gente, mas as atitudes agressivas intencionais e repetitivas que ridicularizam, agridem e humilham pessoas – tão comum entre crianças e jovens – é muito familiar a todos. A palavra inglesa 'bully' significa valentão, brigão. Atos como empurrar, bater, colocar apelidos ofensivos, fazer gestos ameaçadores, humilhar, rejeitar e até mesmo ameaçar sexualmente um colega dentro de uma relação desigual de poder, seja por idade, desenvolvimento físico ou relações com o grupo são classificados como bullying. O problema pode ocorrer em qualquer ambiente social – em casa, no clube, no local de trabalho etc –, mas é na escola que se manifesta com mais freqüência. (...)
O Bullying é um problema mundial, encontrado em qualquer escola, não se restringindo a um tipo específico de instituição. Esse 'fenômeno' começou a ser pesquisado há cerca de dez anos na Europa, quando se descobriu que ele estava por trás de muitas tentativas de suicídio entre adolescentes. Geralmente os pais e a escola não davam muita atenção para o fato, que acreditavam não passava de uma ofensa boba demais para ter maiores conseqüências. No entanto, por não encontrar apoio em casa, o jovem recorria a uma medida desesperada. E no Brasil a situação não é diferente.(...)
Quem já não teve um apelido ofensivo na escola? Ou mesmo sofreu na mão de um grupo de colegas que o transformava em 'bode expiatório' de brincadeiras no colégio? Exemplos não faltam. Entre alguns deles está o da gaúcha Daniele Vuoto, que conta toda a sua história em um blog onde também discute sobre o assunto e troca experiências com outras vítimas desse tipo de agressão, psicológica, física e até de assédio sexual. (...)
"O aluno alvo de bullying se culpa muito pelo que acontece, e é preciso esclarecer isso: um aluno que agride outro, na verdade, também precisa de ajuda, pois está diminuindo o outro para se sentir melhor, e certamente não é feliz com isso, por mais de demonstre o contrário. A turma entra na onda por medo, não por concordar. Enxergar a situação dessa forma pode ajudar muito", conta Daniele.
Porém, a realidade de vítimas que 'sofrem em silêncio', como Daniele explica em seu blog, está mudando. Além de atitudes como a da estudante, em que pessoas utilizam a internet para procurar ajuda e trocar experiências, o assunto vêm ganhando corpo e se tornando pauta de veículos de comunicação de massa, a exemplo das matérias veiculadas no Jornal Nacional, da Rede Globo, e em discussões como a realizada no programa Happy Hour, do canal a cabo GNT. (...)

(Disponível em: http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=revista_educarede.especiais&id_especial=361. Acesso:22 agosto 2010)

Trabalhando com o texto

1. Como o autor define bullying?

2. Por que o termo foi utilizado em inglês?

3. Segundo o texto, esse tipo de atitude precisa ser seriamente enfrentado. Qual sua opinião?

4. Você acredita que o bullying existe na escola apenas pelo fato de que as crianças são diferentes entre si? Explique.

5. Que soluções você apontaria para o problema?

6. Em algum momento, na nossa escola, você se sente vítima de bullying? Justifique sua resposta.

7. Você conhece ou já ouviu falar de alguém na nossa escola, vítima de bullying?






- Me disseram...
- Disseram-me.
- Hein?
- O correto e "disseram-me". Não "me disseram".
- Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é "digo-te"? - O quê?
- Digo-te que você...
- O "te" e o "você" não combinam.
- Lhe digo?
- Também não. O que você ia me dizer?
- Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a
cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?
- Partir-te a cara.
- Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.
- É para o seu bem.
- Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender.
Mais uma correção e eu...
- O quê?
- O mato.
- Que mato?
- Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?
- Pois esqueça-o e pára-te. Pronome no lugar certo e elitismo!
- Se você prefere falar errado...
- Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou
entenderem-me?
- No caso... não sei.
- Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?
- Esquece.
- Não. Como "esquece"? Você prefere falar errado? E o certo é "esquece" ou
"esqueça"? Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos.
- Depende.
- Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não
sabes-o.
- Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.
- Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não posso
mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia.
- Por que?
- Porque, com todo este papo, esqueci-lo.
(Luis Fernando Veríssimo)

1. O que dá início à discussão entre as personagens?


2. Por que a forma lhe digo também não foi aprovada?


3. A forma matar-lhe-ei-te não existe em português. Pesquise por que e surgira uma nova forma.

4. Muitas vezes a posição do pronome é determinada de acordo com o que soa mais agradável. Esse critério chama-se “eufonia”. De acordo com ele, reescreva a oração Vê se me esquece.

5. Qual é o argumento que uma personagem usa para corrigir a outra?




O que eu quero contar é tão delicado é tão delicado quanto a própria vida. E eu queria poder usar delicadeza que também tenho em mim, ao lado da grossura de camponesa que é o que me salva.
Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em aprender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce , estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo aliás atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
                Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. Ou será que eu adivinhava mas turvava minha possibilidade de lucidez para poder, sem me escandalizar comigo mesmo, continuar em inocência a me enfeitar para os meninos? Enfeitar-me aos onze anos de idade consistia em lavar o rosto tantas vezes até que a pele esticada brilhasse. Eu me sentia pronta, então. Seria minha ignorância um modo sonso e inconsciente de me manter ingênua para poder continuar, sem culpa, a pensar nos meninos? Acredito que sim. Porque eu sempre soube coisas que nem eu mesma sei que sei.
                As minhas colegas de ginásio sabiam de tudo e inclusive contavam anedotas a respeito. Eu não entendia mas fingia compreender para que elas não me desprezassem e à minha ignorância.
Enquanto isso, sem saber da realidade, continuava por puro instinto a flertar com os meninos que me agradavam, a pensar neles. Meu instinto precedera a minha inteligência.
Até que um dia, já passados os treze anos, como se só então eu me sentisse madura para receber alguma realidade que me chocasse, contei a uma amiga íntima o meu segredo: que eu era ignorante e fingira de sabida. Ela mal acreditou, tão bem eu havia fingido. Mas terminou sentindo minha sinceridade e ela própria encarregou-se ali mesmo na esquina de me esclarecer o mistério da vida. Só que também ela era um amenina e não soube falar de um modo que não ferisse a minha sensibilidade de então. Fiquei paralisada olhando para ela, misturando perplexidade, terror, indignação, inocência mortalmente ferida. Mentalmente eu gaguejava: mas por quê? Mas por quê? O choque foi tão grande – e por uns meses traumatizante – que ali mesmo na esquina jurei alto que nunca iria me casar.
                Embora meses depois esquecesse o juramento e continuasse com meus pequenos namoros.
Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
                Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amo. Esse adulto saberia como lidar com uma alma infantil sem martirizá-la com a surpresa, sem obrigá-la a ter toda sozinha que se refazer para de novo aceitar a vida e os seus mistérios.
                Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continua intacto. Embora eu saiba que de uma planta brotar um flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é pudor apenas feminino.
Pois juro que a vida é bonita.
( Clarice Lispector. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro, Rocco. p. 113-115)
I- Compreensão e Interpretação de Texto

1.Como a narradora faz sua própria descrição?

________________________________________________________________________________________________________
2.Por que o título do texto é “A descoberta do mundo”? Explique?

________________________________________________________________ _______________________________________
3. De acordo com o contexto em que está inserido, a que a narradora-personagem se refere quando menciona “os fatos da vida”?

_______________________________________________________________________________________________________
4. Leia as frases abaixo retiradas do texto “A descoberta do mundo”, observando as palavras em destaque, depois assinale a alternativa que contenha, respectivamente, os sinônimos.

I – Fui precoce em muitas coisas.
II – Meu instinto precedera a minha inteligência.
III – O mais surpreendente é que, mesmo depois de saber tudo, o mistério continuou intacto.
IV – Seria minha Ignorância em modo sonso de me manter ingênua?

a) atrasada/adiantou/insuportável/ dissimulado/compreensível.
b) adiantada/ surgiu depois/admirável/ fantástico/inteiro/atrevido.
c) prematura/surgiu antes/admirável/inteiro/dissimulado
d) nenhuma das alternativas




Levei um monte de tempo me vestindo. Não tinha roupa que servisse. Não gosto de festas, bailes menos ainda. A Morecy faz 13 anos. Eu não sei que roupa a gente tem que pôr quando a melhor amiga da gente faz 13 anos. Pra falar a verdade, preferia te pego uma gripe e curtido febre na cama. Não pus o vestido verde porque fico com cara de defunto. O amarelo ficou dançando, acho que emagreci. Como sempre, acabei indo com o xadrezinho, que é meio manjado, mas me sinto bem.
Não consegui entrar em acordo com a minha cara no espelho. Não gosto do meu cabelo liso e muito fino. Nem da minha cara sem pó de arroz. Mas também de pó de arroz não fico bem.
Acho que levei umas duas horas me aprontando. Cheguei tarde, todo mundo já estava lá. Tinha luz negra, um montão de gente dançando e eu encabulei vendo o Luiz do outro lado do salão, conversando com os amigos.
Fiquei de pé também, falando com Maria Luíza, aquela bem alta que todo mundo tia sempre pra dançar porque é linda, parece Dominique Sanda. Pegamos uns copos com guaraná e ficamos bebendo, enquanto ela me contava a briga que tinha tido com a D. Rita. Depois nós fomos dançar sozinhas mesmo. E na quarta música o Luiz veio falar comigo.
Foi daí que a gente saiu pro terraço e ele perguntou se eu gostava mesmo dele. Disse que sim. E é verdade, eu gosto um pouco dele. Então ele disse que se eu gostava mesmo era pra eu dar um beijo nele. Eu dei, no rosto. Ele disse que ali não valia, tinha que ser na boca. Ele falava e sorria, mas eu percebi que ele estava um pouco sem jeito, porque toda hora olhava pros lados, pra ver se não vinha ninguém.
Daí ele pegou na minha mão e depois me abraçou e ficou falando que gostava muito de mim, que eu tinha um cabelo bem macio, e eu pensei que poderia ser macio, mas era fino e liso demais. Daí ele disse que não gostava de menina que usava pintura, que ficava com cara de palhaço e que eu era bem natural. Foi bem essa palavra que ele usou: natural. Achei engraçado falar assim, mas também achei legal ele falar desse jeito. Aí ele foi chegando, me beijando o cabelo, a testa, descendo pelo nariz e eu deixando porque vinha subindo em mim um calor gostoso, uma espécie de moleza que eu nunca tinha sentido antes...
(Mirna Pinsky. Iniciação. Belo Horizonte, Comunicação, 1980)
I – Compreensão e Interpretação do Texto
1.       Quem é a principal personagem do texto? Dê duas características dela.

______________________________________________________________
2.       Como essa personagem se sente em relação à festa?

_______________________________________________________________
3.       Por que a narradora demora “umas duas horas” para se arrumar para a festa?

_______________________________________________________________
4. Marque a alternativa correta em relação ao(s) sentimento(s) que a narradora precisou vencer para ir ao baile.
I – Medo
II – Angústia
 III – Pânico
IV – Insegurança
V – Euforia
a) Apenas a I está correta.
b) Apenas a II e III estão corretas.
c) Apenas A I e IV estão corretas.
d) Apenas a II e V estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

4.       Muitas vezes o texto nos dá pista do tempo e do espaço da narração. Em sua opinião em que época este tipo de “paquera” ocorreu? Justifique sua resposta com elementos do texto.

________________________________________________________________________________________________________
5.       Leia as frases abaixo, depois classifique os pronomes grifados:
“Achei engraçado falar assim, mas também achei legal ele fala desse jeito.”
______________________________________________________________________
6.       Volte à questão anterior e responda:
Os pronomes destacados são do tipo que acompanham ou substituem os substantivos?

ELE ____________________________ DESSE ______________________

Quais são os substantivos que eles estão acompanhando ou substituindo? Se necessário volte ao texto “ O baile”.

ELE _____________________________ DESSE ______________________




para Leonardo, um menino meu amigo

Meu companheiro menino,
perante o azul do teu dia,
trago sagradas primícias
de um reino que vai se erguer
de claridão e alegria.

É um reino que estava perto,
de repente ficou longe,
não faz mal, vamos andando,
porque lá é nosso lugar.

Vamos remando, Leonardo,
porque é preciso chegar.
Teu remo ferindo a noite,
vai construindo a manhã.
Na proa do teu navio,
chegaremos pelo mar.

Talvez cheguemos por terra,
na poeira do caminhão,
um doce rastro varando
as fomes da escuridão.
Não faz mal se vais dormindo,
porque teu sono é canção.

Vamos andando, Leonardo.
Tu vais de estrela na mão,
tu vais levando o pendão,
tu vais plantando ternuras
na madrugada do chão.

Meu companheiro menino,
neste reino serás homem,
um homem como o teu pai.
Mas leva contigo a infância,
como uma rosa de flama
ardendo no coração:
porque é da infância, Leonardo,
que 0 mundo tem precisão.
Santiago do Chile, novembro de 1964.
( Thiago de Melo. Faz escuro mas eu canto. Rio de Janeiro: Record,s.d p.27-28)
1. O que a expressão " companheiro menino" revela quanto ao sentimento do eu lírico em relação ao menino?

2. O que você entende pela imagem "azul do teu dia", do segundo verso?

3. O pendão é frequentemente usado para identificar uma tropa ou um exército. Na 5ª estrofe do poema o pendão anuncia guerra?

4. O que o menino leva em sua jornada?

5. Por que, segundo os versos finais, o mundo precisa da infância?

6. Justifique o titulo com ideias do poema.

7. Para você o que é ternura?

8. o que podemos fazer para tornar o mundo mais terno?

9. Segundo o poeta, o mundo precisa da infância. Você concorda com ele? caso não, de que o mundo precisa?

10. Para você como seria um mundo ideal?

a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda a onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda anda

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa)

O poema de Manuel Bandeira tematiza o movimento da onda, e todo ele, como forma, busca reforçar o conteúdo pelo emprego de recursos visuais e musicais.
1. Que relação mantém o ritmo do poema com o movimento da onda?

2. Destaque do poema exemplo de aliteração, de assonância e de paranomásia.

3. Crie três ou mais poemas concretos a partir dos temas:
palavras
a chuva e o vento
o futebol
festa
amigos



























Normalmente deixados de lado ou tratados como um capítulo menor nas estatísticas nacionais, indicadores relativos à cultura são importantes para tentar a inserção futura do País.
Se dados econômicos dizem algo a respeito do bem-estar e do poder de compra das pessoas, indicadores culturais apontam para a sua inclusão na sociedade. E, quanto menores os índices de exclusão de um dado grupamento social, melhores tendem a ser seus números relativos à educação, segurança e à própria produção intelectual e material.
Embora o vínculo entre a existência de uma biblioteca pública em um lugar qualquer e a sua prosperidade pareça distante, ele existe, o que já justifica a busca constante da ampliação de equipamentos culturais nas cidades brasileiras.
A recém-divulgada pesquisa Munic 2001, do IBGE, mostra que tem havido progressos nessa área, ainda que desiguais e em ritmo mais lento que o desejável. O equipamento cultural mais difundido do país são as bibliotecas públicas, presentes em 79% dos municípios brasileiros em 2001. Em segundo lugar, vêm ginásios esportivos ou estádios (76%). Provedores de internet cresceram bastante e já atingem 53% das cidades. Também chamou a atenção dos pesquisadores a expansão, em relação a 1999, dos teatros (36%) e dos cinemas (14%) nos municípios brasileiros.
Apesar desses números positivos, apenas 53 cidades (0,9% do total) possuem todos os 17 equipamentos culturais listados pela pesquisa. Pior, 153 municípios (2,8%) não possuem nenhum itens.
É claro que, diante de problemas emergenciais como fome, violência e descalabro na saúde e na educação, a cultura acaba sendo lançada para um segundo plano. O risco que corremos é o de que essa situação que deveria ser aguda se torne crônica e nós tratemos sempre a questão cultural como secundária.
(INDICADOR cultural, Folha de S. Paulo, São Paulo, 17 nov. 2003)
1.       O texto evidencia que:
a)       o tratamento dada à questão cultural no País atende a interesse de diferentes grupos sociais.
b)       o estímulo à transformação da cultura nacional em sua multiplicidade de formas é uma necessidade.
c)       os índices estatísticos há pouco revelados pelo IBGE espelham uma realidade do Brasil, carente de um redimensionamento sociocultural.
d)       os modos diferentes e, as vezes, contraditórios de se tratar a questão cultural explicam a distorção existente entre realidade socioeconômica e cultural do Brasil.
e)       os dados estatísticos fornecidos pelo IBGE sobre a questão cultural brasileira têm sido utilizados para traçar novas estratégias, a fim de mudar a realidade cultural do País.
2.       A partir da análise do indicador cultural, para o editorialista, a questão da cultura, no Brasil,
a)       é prioritária em determinadas regiões que vivem isoladas dos grandes centros urbanos.
b)       Exige o respeito aos múltiplos aspectos regionais da realidade brasileira para que se preservem tais valores.
c)       Tem todo um tratamento bem estruturado e sistemático que atende igualmente a regiões diversas do território nacional.
d)       Tem tido problemas regionalizados que colocam em risco a possibilidade de expansão dos manifestos culturais para todas as regiões do País.
e)       Passa por um momento em que aspectos da realidade social, como educação e saúde, considerados mais importantes, provocam desinteresse no seu enfoque.
3.       Há uma informação que pode ser confirmada pelo texto na alternativa
a)       Uma nova ordem cultural só pode ser possível se houver uma ruptura política no País.
b)       A importância da cultura, no Brasil, está vinculada a interesses econômicos e políticos.
c)       As culturas humanas são dinâmicas, contudo, em algumas regiões do País, a estagnação cultural é visível.
d)       A relação entre poder econômico e bem-estar social é a mesma existente entre nível cultural e inclusão social.
e)       A cultura brasileira, tanto na forma material quanto na forma de conhecimentos, tem recebido contribuições de múltiplas origens.
4.       Em ”A recém-divulgada pesquisa Munic 2001, do IBGE, mostra que tem havido progressos nessa área, “ainda que” desiguais e em ritmo mais lento que o desejável” , o termo destacado pode ser substituído,sem alterar o sentido original do texto, por
a)       Mesmo que
b)       no entanto     
c)       se bem que          
d)       mas também              
e)        E. à medida que
7.       Com relação a o enunciado “e nós tratemos sempre a questão cultural como secundária.” Pode-se afirmar que, no contexto, expressa uma
A. conformidade                      
B. contradição                       
C. explicação              
D. hipótese                  
E. certeza
8.       Provedores de internet cresceram bastante e já atingem 53% das cidades”. Sobre o período em evidencia é correto afirmar: Marque as corretas:
a)       “de internet” é agente da ação expressa por “cresceram”.
b)       “cresceram” e “atingem” expressam, respectivamente, ações passada e presente .
c)       “bastante” denota quantidade.
d)       “e” tem valor adversativo.



                Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos de vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras e, a bem dizer, não se digne pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões, pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema.
                Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo. Plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para com o mundo ocidental e o oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a classificação.
                Objeto que visse em nossa mão, requisitava-º Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógio de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e ( é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis – porque me esquecia dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita apressada, sobre a razão íntima de seus atos.
                Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro que não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à nossa amizade – e, até, que a nossa amizade lhes conferia caráter necessário, de prova; ou gratuito, de poesia e jogo.
                Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.
1.       O que se pode inferir a partir da afirmação: “ de repente o aeroporto ficou vazio” (linhas 62-63)?

A movimentação de pessoas no aeroporto foi concluída.
a.       A alegria que impregnava o ambiente acabou.
b.       A inquietação das pessoas, em virtude da partida, cessou.
c.        A intensidade do movimento de pessoas diminuiu.
d.       A ausência de expectativa das pessoas que circulavam.

2.       Que opção sintetiza a idéia central do texto?
a.       Saudade do amigo no momento de sua chegada.
b.        Carinho e encantamento do adulto pela criança.
c.        Relacionamento formal entre a criança e o adulto.
d.       Prazer de levar o amigo ao aeroporto e vê-lo partir.
e.        Amizade, proporcionando uma mudança de vida.

3.       Qual a intenção do narrador ao usar a expressão grifada no trecho abaixo?
“Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva.” (linhas 18-19)
a.       Destacar o poder do sorriso de Pedro na vida das pessoas.
b.       Apreciar a ousadia de Pedro quando sorri para as pessoas.
c.        Mostrar o sorriso como elemento de fantasia na vida de Pedro.
d.       Expressar a influência que o sorriso dissimulado exerce.
e.        Demonstrar a inquietação de Pedro ao sorrir para as pessoas.

4.       Que significa a palavra sublinhada sugere no contexto?
“Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído” (linhas 59-62)

5.       Pela descrição do autor a respeito de Pedro no início do texto, como Pedro nos parece?


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6.       E afinal quem é Pedro?
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Gari do Rio acha fortuna e devolve             2,0pt

 Numa época em que escândalos de corrupção dão o tom dos noticiários brasileiros, três funcionários da limpeza urbana carioca deram exemplo de honestidade. Durante a Eco-92, quando trabalharam no Riocentro, eles acharam e devolveram duas carteiras com cerca de R$ 115 milhões de dólares e cheques de viagem e uma pulseira de ouro.
Os três funcionários da Companhia Municipal de Limpeza Urbana integraram a
equipe escalada para manter limpo o complexo do Riocentro, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio), durante a conferência mundial que reuniu cerca de 110 chefes de Estado e de governo em 15 dias de debates sobre o futuro do planeta.
A dois dias do encerramento da Eco, em 12 de junho, Joilson Fernandes Lírio, 33, encontrou uma carteira com R$ 105.000,00 mil, quando recolhia papéis no plenário principal do centro de convenções. “Na hora, vi que tinha dinheiro dentro, mas devolvi à recepcionista sem nem contar quanto era”, afirma. A carteira foi devolvida para um membro da delegação dos EUA minutos depois.
Na mesma tarde, outro gari, Ivanilson José dos Santos, 25, encontrou sobre uma das mesas do plenário outra carteira cheia de cheques de viagem em um valor aproximado de R$ 10.000,00 mil, quantia que ele levaria um ano e meio mais ou menos para juntar.
Assim como seu colega, ele entregou a carteira ao primeiro agente de segurança das Nações Unidas que encontrou. Meia hora depois, um esquecido ecologista japonês já havia recuperado seus cheques.
No dia seguinte, foi a vez do encarregado de serviços da empresa, Luís Leitão, 49, recolher no chão do shopping do Rio-centro uma pulseira de ouro cravejada de brilhantes. No seu caso, a devolução à dona foi imediata, porque a pulseira acabara de soltar-se do braço de uma integrante da delegação norte-americana. “Fiquei feliz por ter praticado uma boa ação”, diz Leitão, lembrando-se dos agradecimentos da turista em um complicado “portunhol”.
Com o fim da conferência, os três voltaram à rotina normal de trabalho no Setor de Emergência da Zona Oeste em Bangu, onde a reação dos colegas se divide entre gozações e elogios. “Não estamos pensando em recompensa, mas se vier uma promoção será uma boa”, disse Ivanildo.
(Folha de São Paulo)

1. Por que os três garis aparecem no jornal?

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2. Como você entende a frase: “Numa época em que escândalos de corrupção dão o tom dos noticiários brasileiros, três funcionários da limpeza urbana carioca deram exemplo de honestidade.”

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3. Os três garis estão na “contramão da onda da corrupção”. Qual o significado aqui de “contramão”?

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4. Alguns dados sobre a vida dos garis aumentam ainda mais o mérito da atitude que tiveram. Quais?

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5. Como os colegas dos garis receberam a atitude dos três?

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6. Por que alguns colegas dos três funcionários fizeram gozações com eles?

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7. Depois da conferência, para onde voltaram os três?

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8. Que “recompensa” os funcionários estão aguardando? O que isso vem confirmar sobre eles?

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9. O gesto dos garis deveria ser a atitude natural de qualquer pessoa que encontra um objeto que não lhe pertence: devolvê-lo ao verdadeiro dono. Por que nos tempos atuais tal atitude está se tornando cada vez mais rara?

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Recordações de uma vida

            Nasci no Brás, Rua Carlos Garcia, 26, no dia 30 de novembro de 1906.
            Quando eu tinha oito anos a guerra, que começou no 14 e terminou 18. Com a guerra veio muita miséria, nós passamos muito mal aqui em são Paulo. Lembro, na Rua Américo Brasiliense, da Companhia Mecânica importadora que ajudou muitos desses que não tinham possibilidade de aquisição: um porque o pai foi pra guerra, outros porque tinham dificuldade de encontrar trabalho. Na hora do almoço e na hora da janta ela dava uma sopa para famílias do Brás, da Mooca, do pari, da classe menos favorecida pela sorte.
            Comecei a trabalhar com nove anos numa oficina de gravura que ainda existe:
Masucci, Petracco e Nicoli. Meu irmão Alfredo, que já trabalhava lá, me encaminhou: era estamparia, gravuras, fundição de placa de bronze... Nessa fábrica foi a minha infância, mocidade e uma boa parte da velhice. Saí de lá com cinqüenta e cinco anos de trabalho, aposentado.
            O ano em que me casei, 1937, foi um dos anos de maior miséria em são Paulo. Não sei se foi porque era o começo da guerra, foi um ano muito sacrificado, não tinha serviço, era uma miséria.
            Hoje moro com a Isabel, minha filha solteira, e minha filha viúva e os dois netos... Sou aposentado mas ainda faço alguma coisa daquilo que eu sabia fazer, afinal sou responsável pela casa.
            A aposentadoria não é nada e preciso pegar serviços de gravação. Pago o aluguel desta casa porque tem um quintal gostoso para os netos, árvores.
            Quando encontro os amigos da oficina que trabalharam trinta, quarenta anos comigo é uma satisfação enorme, lembrando o que fazíamos; as amizades lá eram boas. Porém, o mais importante em minha vida foi o meu casamento, o nascimento das filhas, o casamento da primeira filha, o nascimento dos filhos da minha filha.
            Aquilo que eu fiz na vida não foi lá grande coisa. Se estivesse na minha competência eu daria um conselho aos jovens para levar uma vida honesta, uma vida com amor. E se portar direitinho... A coisa mais linda que existe é quando um homem tem a responsabilidade da família, uma boa esposa.
            Os velhos de hoje foram os moços de ontem. Devem procurar ainda fazer alguma coisa na vida. Se um velho fosse doente, abandonado, deve-se recolher num lar onde pudesse passar os últimos anos com fartura, boa companhia quando sozinho. Se  tem família, embora tenha feito algum deslize na mocidade, acho que devia ser perdoado e tratado muito bem. Há os que partiram para o jogo e a bebida e ficaram por aí abandonados. Mas eu acho que deveríamos olhar até por esses velhos. Eles também trabalharam.
(Memória e sociedade: lembranças de velhos - Ecléa Bosi)
1. Quais são os fatos históricos citados no texto?

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2. Quantos anos o narrador trabalhou na mesma oficina de gravura? O que isso revela sobre ele?

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3. Qual a situação econômica do narrador?

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4. Quais são os aspectos que o narrador considera positivos na vida dele?

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5. Segundo o narrador, como devem ser tratados os velhos?

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6. A situação do aposentado no Brasil. Lembra do caso do narrador: Depois de 55 anos de trabalho ele ainda precisa trabalhar para sobreviver. Será correto, justo? Justifique sua resposta.

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7. Faça um “balanço” da vida do Sr. Amadeu (narrador do texto). Valeu a pena tanto sacrifício? Justifique sua resposta.
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ONDA
Guilherme de Almeida

Morno Trapo,
Contorno farrapo,
Da onda lenço
Redonda... suspenso
Pluma pelas
De espuma, estrelas...
Lenda Resto
De renda, de um gesto
Frase de gaze, louco
Riso que é o pouco
De guizo... que há de
Ninho bondade
De arminho no alto
Onde mar... Salto
Se esconde da água
Aéreo na mágoa
Mistério... doida
De toda vida partida...

1. Leia o poema e responda:

a)  Qual assunto é abordado no poema Onda?

b) Identifique os principais elementos presentes no poema.

c) Explique que relação o texto estabelece com o título Onda e os elementos que você identificou.

d) Que versos serviram de ponto de partida para que o autor pudesse construir a impressão de movimento?

f) O poema apresenta muita assonância. Indique algumas delas.

























Texto I
Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua.
Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.
Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças; e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante . . .
Texto II
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
[...]
Este contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo o momento, em todos os pormenores da vida sertaneja -- caracterizado sempre pela intercadência impressionadora entre extremos impulsos e apatias longas.
Texto III
Decididamente era indispensável que a campanha de canudos tivesse objetivo superior à função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a combater, em guerra mais demorada e digna. Toda aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro, se não se aproveitassem os caminhos abertos à artilharia para uma propaganda tenaz, continua e persistente, visando trazer para o nosso tempo e incorporar à nossa existência aqueles rudes compatriotas retardatários. [...]
Canudos não se rendeu.
Fechemos este livro.
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.
( Fragmentos da obra Os Sertões de Euclides da Cunha, São paulo: Círculo do Livro, 1975)
Na Internet:
  1. De acordo o texto I, como é a natureza no lugar onde vive o sertanejo? Ela se mostra acolhedora ao homem?
  2. O texto II, ao descrever o sertanejo, apresenta como contraditória certos aspectos de sua constituição física e seu comportamento. Comente essa contradição.
  3. No 1º parágrafo do texto III, o autor crítica a guerra em si e afirma que outra “guerra mais demorada e digna” deveria ser travada. Qual é essa guerra?
  4. Identifique no texto II um trecho que comprove a influência de teorias raciais existente no começo do século XX.






















Leia:
A Velha Contrabandista

                Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
 - Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:
- É areia!
                Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
                Mas o fiscal desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
- Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:
- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
- O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha.
- Juro - respondeu o fiscal.
- É lambreta.
( Stanislaw Ponte Preta. Dois amigos e um chato. 8ed. São Paulo, Moderna, 1986)
1. Aponte expressões do texto que caracterizam a linguagem coloquial.
2. A construção: “ o fiscal da Alfândega mandou ela parar” é típica da linguagem coloquial. Reescreva-a utilizando o padrão culto de linguagem.
3. Quando a velhinha disse: é areia, o fiscal acreditou? Justifique sua resposta com elementos do texto.
4. Você concorda com a esperteza da velhinha? Justifique sua resposta.
5. O que o autor quis dizer com a expressão: Tudo malandro velho?
6. Quando a velhinha decidiu contar a verdade?
7. Quando o narrador citou os dentes que “ela adquirira no odontólogo”, a que tipo de dentes ele se referia?

















  1. Leia o fragmento de um conto.
Em dezembro
Em dezembro mangas maduras eram vistas da janela – mas antes disso já tínhamos comido muita manga com sal, tirado escondido da cozinha. [...]
- Quem comeu manga verde? Vamos, confessa, já.
Nenhum confessava: os dois de castigo.
Mostrei para Neusa a manga amoitada no capim: começava a amarelar. Ela cheirou, apertou contra o rosto, me pediu.
- Dou um pedaço.
- Quero a manga inteira.
- A manga inteira não. Um pedaço. [...]
- A manga inteira ou nada.
- Então nada.
Quando entrei na cozinha, Vovó estava me esperando:
- Pode ir direto para o quarto, já sei de tudo.
Fiquei fechado de castigo até a hora da janta.
Se tornar a comer manga verde, da próxima vez vai apanhar é de vara, ouviu?
Quem apanhou de vara foi a Neusa. Cerquei-a no fundo do quintal com uma vara:
- Você enredou, agora vai apanhar.[...]
Ela pediu pelo amor de Deus. Perguntei se ela gostava de mim, ela disse que gostava. Pedi para ela dizer: “ Eu te amo”. Ela disse. [...]eu falei que era mentira, que ela gostava é de Marcelo. Então ela disse que era mentira mesmo, que tinha é nojo de mim, e eu desci uma varada nas pernas dela. Em vez de correr, ela ficou parada, encolhida contra o muro[...]
- Pede perdão, senão eu bato de novo!
Ameacei com a vara, mas ela só chorava. Então bati de novo, e dessa vez ela nem bem se mexeu, como se não tivesse sentindo dor. Foi andando em direção à casa, e eu fiquei parado, vendo-a afastar-se.[...]
Ao voltar para casa, deixei três moranguinhos na mesa do quarto onde ela, deitada, havia adormecido.
No dia seguinte recebi uma caixinha embrulhada - dentro os três moranguinhos e um bilhete: “Eu gostava é de você mesmo, mas agora nunca mais”.
Luiz Vilela. Contos da infância e da adolescência. São Paulo: Ática, 2001.
  1. Quem comeu manga verde?
  1. Por que a Vovó não queria quer eles comessem manga verde com sal?
  1. O texto é narrado em 1ª pessoa. Que marcas gramaticais permitem dizer isto?
  2. Quais frases ou expressões revelam impressões do narrador?
  1. Em que momento o narrador descobre os verdadeiros sentimentos de Neusa em relação a ele?
  1. Em sua opinião, por que ele não acreditou quando ela disse, no quintal, que gostava dele?
  1. Que tempo verbal o narrador utiliza na maior parte de suas falas?
  1. Por que o narrador bateu em Neusa?






















Absurdo - Vanessa da Mata

Havia tanto pra lhe contar
A natureza
Mudava a forma o estado e o lugar
Era absurdo
Havia tanto pra lhe mostrar
Era tão belo
Mas olhe agora o estrago em que está
Tapetes fartos de folhas e flores
O chão do mundo se varre aqui
Essa idéia do natural ser sujo
Do inorgânico não se faz
Destruição é reflexo do humano
Se a ambição desumana o Ser
Essa imagem infértil do deserto
Nunca pensei que chegasse aqui
Auto-destrutivos,
Falsas vitimas nocivas?
Havia tanto pra aproveitar
Sem poderio
Tantas histórias, tantos sabores
Capins dourados
Havia tanto pra respirar
Era tão fino
Naqueles rios a gente banhava
Desmatam tudo e reclamam do tempo
Que ironia conflitante ser
Desequilíbrio que alimenta as pragas
Alterado grão, alterado pão
Sujamos rios, dependemos das águas
Tanto faz os meios violentos
Luxúria é ética do perverso vivo
Morto por dinheiro
Cores, tantas cores
Tais belezas
Foram-se
Versos e estrelas
Tantas fadas que eu não vi
Falsos bens, progresso?
Com a mãe, ingratidão
Deram o galinheiro
Pra raposa vigiar
1. Leia o texto e responda:
a) Os fatos apresentados no texto podem ocorrer na nossa realidade atual? Justifique sua resposta.

b) Enumere os fatos narrados.

c) Por que desmatam tudo e depois reclamam do tempo?

d) Qual o tempo verbal predominante na letra da música?

Obs: Passar o clipe da música antes de trabalhar o texto.








- Me disseram...
- Disseram-me.
- Hein?
- O correto e "disseram-me". Não "me disseram".
- Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é "digo-te"? - O quê?
- Digo-te que você...
- O "te" e o "você" não combinam.
- Lhe digo?
- Também não. O que você ia me dizer?
- Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a
cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?
- Partir-te a cara.
- Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.
- É para o seu bem.
- Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender.
Mais uma correção e eu...
- O quê?
- O mato.
- Que mato?
- Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?
- Pois esqueça-o e pára-te. Pronome no lugar certo e elitismo!
- Se você prefere falar errado...
- Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou
entenderem-me?
- No caso... não sei.
- Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?
- Esquece.
- Não. Como "esquece"? Você prefere falar errado? E o certo é "esquece" ou
"esqueça"? Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos.
- Depende.
- Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não
sabes-o.
- Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.
- Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não posso
mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia.
- Por que?
- Porque, com todo este papo, esquecí-lo.

Luis Fernando Veríssimo



1. O que dá início à discussão entre as personagens?


2. Por que a forma lhe digo também não foi aprovada?


3. A forma matar-lhe-ei-te não existe em português. Pesquise por que e surgira uma nova forma.


4. Muitas vezes a posição do pronome é determinada de acordo com o que soa mais agradável. Esse critério chama-se “eufonia”. De acordo com ele, reescreva a oração Vê se esquece-me.


5. Qual é o argumento que uma personagem usa para corrigir a outra?







Nos três textos abaixo, manifestam-se diferentes concepções do tempo; o autor de cada um deles expõe uma determinada relação com a passagem do tempo. Leia-os com atenção:

Texto I
Mais do que nunca a história é atualmente revista ou inventada por gente que não deseja o passado real, mas somente um passado que sirva a seus objetivos (...) Os negócios da humanidade são hoje conduzidos especialmente por tecnocratas, resolvedores de problemas, para quem a história é quase irrelevante; por isso, ela passou a ser mais importante para nosso entendimento do mundo do que anteriormente.
(Eric Hobsbawm, Tempos interessantes: uma vida no século XX)

Texto II
O que existe é o dia-a-dia. Ninguém vai me dizer que o que aconteceu no passado tem alguma coisa a ver com o presente, muito menos com o futuro. Tudo é hoje, tudo é já. Quem não se liga na velocidade moderna, quem não acompanha as mudanças, as descobertas, as conquistas de cada dia, fica parado no tempo, não entende nada do que está acontecendo.
(Herberto Linhares, depoimento)

Texto III

Não se afobe, não,
Que nada é pra já,
O amor não tem pressa,
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário,
Na posta-restante,
Milênios, milênios
No ar...
E quem sabe, então,
O Rio será
Alguma cidade submersa.
Os escafandristas virão
Explorar sua casa,
Seu quarto, suas coisas,
Sua alma, desvãos...
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas, palavras,
Fragmentos de cartas, poemas,
Mentiras, retratos,
Vestígios de estranha civilização.
Não se afobe, não,
Que nada é pra já,
Amores serão sempre amáveis.
Futuros amantes quiçá
Se amarão, sem saber,
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você.
(Chico Buarque, "Futuros amantes")

Redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, na qual você apontará, sucintamente, as diferentes concepções do tempo, presentes nos três textos, e argumentará em favor da concepção do tempo com a qual você mais se identifica.











Cordel – é a arte do sertanejo. Pertence à tradição oral e pode ser recitado ou cantado. Chama-se assim porque os livretos e versos produzidos pelos cordelistas ficam  pendurados em cordéis nas feiras livres.




Manoel dos Reis Machado
É nossa árvore do bem
Nosso grande mestre Bimba
Nome que até hoje vem
Famoso na capoeira
Por não perder pra ninguém.

Engenho velho de Brotas
Local do seu nascimento
Salvador sua cidade
Onde alegria e tormento
Lhe deram vivacidade
Força , coragem e talento.
(...)
Nasceu com ele esse nome
Bimba nasceu pra vencer
Cresceu lutou ganhou fama
Os pais gostavam de ver
O futuro batuqueiro
Lá na rede a se mexer.
(...)
Bimba tinha o tipo físico
De uma rocha escarpada
Muito alto,andar dançante
Seguro em cada passada
Olhos grandes,ombros largos
E sempre dando risada.
Apertava sempre os olhos
Estudando o inimigo
Gostou muito de charuto
Se zangasse era um perigo
Ninguém levava a melhor
Desafiando consigo.
(...)
Nunca levou desaforo
Mas era camaradeiro
Preservador de amizade
Desconfiado e ligeiro
Não dobrava em uma esquina
Nem para ganhar dinheiro.
(...)
Ganhou a vida,com tudo
Fez carvão,cortou madeira
Foi trapicheiro e carpina
Estivador de primeira
Mas o que fez com mais classe
Só foi jogar capoeira.
(...)
Bimba enfrentou com seus golpes
Duas guerras mundiais
Resto da escravidão
Repressões policiais
Mas botou a capoeira
Nos mais altos pedestais.
Praticou bem a angola
Aprendeu com quem sabia
Depois criou outra luta
Com mais garra e valentia
Pôs o nome regional
Representando a Bahia.
(...)
No ano de 74
A 5 de fevereiro
Bimba fechou seu arquivo
Deu adeus ao mundo inteiro
Entrou de férias na terra
Foi ver Deus, Pai verdadeiro.
Os berimbaus soluçaram
Alunos botaram luto
O dia e relembrado
Como uma data de culto
Hoje os livros e os filmes
Representam o seu produto.
(...)
Luiz Gonzaga foi rei
Cantando Mulher Rendeira
Pelé foi o rei da bola
Com meião e com chuteira
E Mestre Bimba sem dúvida
Foi o rei da capoeira.
Bule-Bule (Antonio Ribeiro da Conceição). Coleção Cordel é coisa da gente. Umburana – BA, 1992.


Escarpada – difícil de subir
Trapicheiro – trabalhador de trapiche – armazém-geral ou pequeno engenho de açúcar.
1. Que parte da história do mestre Bimba você achou mais interessante?
2. Mestre Bimba tornou-se capoeirista famoso e hoje é respeitado em todo o mundo. Que versos indicam as ações que o tornaram conhecido e famoso?
3. Alguns versos revelam a importância de mestre Bimba para a nossa cultura. Comente a importância cultural do mestre Bimba, utilizando elementos do texto.
4. Releia a última estrofe e responda:
a) No texto é estabelecida uma relação entre mestre Bimba, Luís Gonzaga e Pelé. Que semelhança há entre eles?
b) Qual dos três você menos conhece? Que explicação você daria para isso?

5. Em uma das estrofes acima trata da morte de mestre Bimba. Que expressões são empregadas pelo narrador para se referir a este momento?





Text o 1 - A regreção da redassão
Semana passada recebi um telefonema de uma senhora que me deixou surpreso. Pedia encarecidamente que ensinasse seu filho a escrever.
- Mas, minha senhora - desculpei-me -, eu não sou professor.
- Eu sei. Por isso mesmo. Os professores não têm conseguido muito.
- A culpa não é deles. A falha é do ensino.
- Pode ser, mas gostaria que o senhor ensinasse o menino. O senhor escreve muito bem.
- Obrigado - agradeci -, mas não acredite muito nisso. Não coloco vírgulas e nunca sei onde botar os acentos. A senhora precisa ver o trabalho que dou ao revisor.
- Não faz mal - insistiu -, o senhor vem e traz um revisor.
- Não dá, minha senhora - tornei a me desculpar -, eu não tenho o menor jeito com crianças.
- E quem falou em crianças? Meu filho tem 17 anos.
Comentei o fato com um professor, meu amigo, que me respondeu: "Você não deve se assustar, o estudante brasileiro não sabe escrever". No dia seguinte, ouvi de outro educador: "O estudante brasileiro não sabe escrever". Depois li no jornal as declarações de um diretor da faculdade: "O estudante brasileiro escreve muito mal". Impressionado, saí a procura de outros educadores. Todos me disseram: acredite, o estudante brasileiro não sabe escrever. Passei a observar e notei que já não se escreve mais como antigamente. Ninguém mais faz diário, ninguém escreve em portas de banheiros, em muros, em paredes. Não tenho visto nem aquelas inscrições, geralmente acompanhadas de um coração, feitas em casca deárvore. Bem, é verdade que não tenho visto nem árvore.
- Quer dizer - disse a um amigo enquanto íamos pela rua - que o estudante brasileiro não sabe escrever? Isto é ótimo para mim. Pelo menos diminui a concorrência e me garante emprego por mais dez anos.
- Engano seu - disse ele. - A continuar assim, dentro de cinco anos você terá que mudar de profissão.
- Por quê? - espantei-me. - Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance eu tenho de sobreviver.
- E você sabe por que essa geração não sabe escrever?
- Sei lá - dei com os ombros -, vai ver que é porque não pega direito no lápis.
- Não senhor. Não sabe escrever porque está perdendo o hábito da leitura. E quando o perder completamente, você vai escrever para quem?Taí um dado novo que eu não havia considerado. Imediatamente pensei quais as utilidades que teria um jornal no futuro: embrulhar carne? Então vou trabalhar num açougue. Serviria para fazer barquinhos, para fazer fogueira nas arquibancadas do Maracanã, para forrar sapato furado ou para quebrar um galho em banheiro de estrada? Imaginei-me com uns textos na mão, correndo pelas ruas para oferecer às pessoas, assim como quem oferece hoje bilhete de loteria:
- Por favor amigo, leia - disse, puxando um cidadão pelo paletó.
- Não, obrigado. Não estou interessado. Nos últimos cinco anos a única coisa que leio é a bula de remédio.
- E a senhorita não quer ler? - perguntei, acompanhando os passos de uma universitária.
– A senhorita vai gostar. É um texto muito curioso.
- O senhor só tem escrito? Então não quero. Por que o senhor não grava o texto? Fica mais fácil ouvi-lo no meu gravador.
- E o senhor, não está interessado nuns textos?
- É sobre o quê? Ensina como ganhar dinheiro?
- E o senhor, vai? Leva três e paga um.
- Deixa eu ver o tamanho - pediu ele.
Assustou-se com o tamanho do texto:
- O quê? Tudo isso? O senhor está pensando que sou vagabundo? Que tenho tempo para ler tudo isso? Não dá para resumir tudo em cinco linhas?
(Carlos Eduardo Novaes)
TEXTO 2 -Estudantes lêem, mas não entendem Brasília (Agência Estado)
O aluno brasileiro não compreende o que lê, revela o programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgado ontem. Entre 32 países submetidos ao teste, o Brasil ficou em último lugar. A prova mediu a capacidade de leitura de estudantes de 15 anos, independentemente da série em que estão matriculados. "Esperava um desastre pior", disse o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, ao anunciar o resultado. Em primeiro lugar ficou a Finlândia. Em penúltimo, à frente do Brasil, o México. Dos 32 países avaliados, 29 fazem parte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - entidade que reúne nações desenvolvidas, como os Estados Unidos ou o Reino Unido, e outras nem tanto, como a Polônia e a República Checa. Também participaram Brasil, Letônia e Rússia. A prova foi aplicada no ano passado, envolvendo ao todo 265 mil estudantes de escolas públicas e privadas. No Brasil, participaram 4,8 mil alunos de 7ª e 8ª séries do ensino fundamental e do 1º e 2º anos do ensino médio. O objetivo foi verificar o preparo escolar de adolescentes de 15 anos, tendo em vista os desafios que terão pela frente na vida adulta.
(www. Oliberal.com.br/arquivo/noticias/atualidade/n05122001index4.htm)
TEXTO 3
As escolas poderiam ensinar a escrever, mas não o fazem. Não que as aulas de redação sejam em menor número do que o desejado. O problema é que essa matéria é ensinada de forma errada, por meio de assuntos distantes da vida real. “Em vez de escrever redações sobre temas vagos, como ‘Minhas férias’ ou ‘Meu cachorro’, o aluno deveria ser adestrado nos diferentes gêneros da escrita: a carta, o memorando, a ficção, a conferência e até o e-mail”, opina o professor Luiz Marcuschi, da Universidade Federal de Pernambuco.
(Falar e escrever, eis a questão. In. VEJA, pp. 104-112, 7/11/2001)
TEXTO 4
Escrever e falar bem, atualmente, tem sido uma das maiores preocupações do brasileiro. Segundo a edição 1.725 de Veja, essa preocupação tem se dado, em grande medida, pela necessidade da fluência no português padrão nas interações sociais, sobretudo nos estudos, na profissão e nos negócios.
Considerando os textos 1, 2, 3 e 4, responda às questões de 1 a 4.

2.       Com base no texto 1, faça o que se pede:

a)       Que conclusão você pode tirar, a partir do efeito de sentido provocado pelo seu título, a respeito do ato de escrever?

b)       Retire dois argumentos que comprovem a sua conclusão.


c)       Modificando os elementos verbais, em destaque, de forma que não haja alteração de sentido, reestruture o período “Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance eu tenho de sobreviver.”

3.       Transcreva o parágrafo, do texto 2, em que se pode comprovar a tese de que os estudantes brasileiros lêem, mas não entendem o que lêem.

4.       Leia os textos 1 e 3 e faça o que se pede:


a)       O que existe em comum, nos textos 1 e 3, com relação à postura comumente associada ao professor brasileiro?

b)       De acordo com o texto 3, um sinônimo à expressão “adestrar”, utilizada pelo professor da Universidade Federal de Pernambuco.


4. Escrever de forma “difícil” há muito vem permeando o imaginário do brasileiro de que escrever dessa forma é sinônimo de escrever bem. O texto 4 desconstrói, em parte, esse imaginário. Para isso, o autor da tira lançou mão de dois recursos estilísticos:
o de uma figura e o de uma função da linguagem.

a)       Que figura de linguagem foi utilizada pelo autor para desconstruir o ideal da “boa escritura”?

b)       Que função de linguagem dá suporte à construção do texto.




























Estava o cordeiro a beber água num córrego, quando apareceu um lobo esfaimado, de horrendo aspecto.
─ Que desaforo é esse de turvar a água que venho beber? ─ disse o monstro, arreganhando os dentes. ─ Espere que vou castigar tamanha má-criação!...
O cordeirinho, trêmulo de medo, respondeu com inocência:
─ Como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela corre do senhor para mim?
Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta, mas não deu o rabo a torcer.
─ Além disso ─ inventou ele ─ sei que você andou falando mal de mim no ano passado.
─ Como poderia falar mal do senhor o ano passado, se nasci este ano?
Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu:
─ Se não foi você foi seu irmão mais velho, o que dá no mesmo.
─ Como poderia ser seu irmão mais velho, se sou filho único?
O lobo, furioso, vendo que com razões claras não venceria o pobrezinho, veio com razão de lobo faminto:
─ Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!
E ─ nhoque ─ sangrou-o no pescoço.

Contra a força não há argumentos.
Monteiro Lobato

1. Qual a real intenção do lobo?

2. Como reage o cordeirinho diante das calúnias do lobo?

3. Quais as armas do lobo para se sair vitorioso?

4. Interprete o provérbio da fábula e escreva pelo menos duas outras frases que poderiam substituí-lo.

5. Se, de acordo com o ponto de vista do lobo, o forte sempre vence pois o mundo é dos espertos, como seria a história contada do ponto de vista do cordeiro??





















Os leitores são, por natureza, dorminhocos. Gostam de ler dormindo.
Autor que os queira conservar não deve ministrar-lhes o mínimo susto. Apenas as eternas frases feitas.
"A vida é um fardo" - isto, por exemplo, pode-se repetir sempre. E acrescentar impunemente: "disse Bias". Bias não faz mal a ninguém, como aliás os outros seis sábios da Grécia, pois todos os sete, como há vinte séculos já se queixava Plutarco, eram uns verdadeiros chatos. Isto para ele, Plutarco. Mas, para o grego comum da época, deviam ser a delícia e a tábua de salvação das conversas.
Pois não é mesmo tão bom falar e pensar sem esforço? O lugar-comum é a base da sociedade, a sua política, a sua filosofia, a segurança das instituições. Ninguém é levado a sério com idéias originais.
Já não é a primeira vez, por exemplo, que um figurão qualquer declara em entrevista:
"O Brasil não fugirá ao seu destino histórico!"
O êxito da tirada, a julgar pelo destaque que lhe dá a imprensa, é sempre infalível, embora o leitor semidesperto possa desconfiar que isso não quer dizer coisa alguma, pois nada foge mesmo ao seu destino histórico, seja um Império que desaba ou uma barata esmagada.
(QUINTANA, Mário. Prosa & Verso. 6. ed. São Paulo: Globo, 1989, p. 87)

Explorando o Texto:
1. Defina, com suas palavras, um leitor dorminhoco.

2. Como você se classificaria: um leitor dorminhoco, um leitor semi desperto ou um leitor atento? Justifique.

3. Plutarco poderia se considerar um grego comum? Por quê?

4. Por que os sete sábios da Grécia deviam ser a tábua de salvação das conversas?

5. Uma das técnicas da dissertação consiste na citação de um "argumento de autoridade", ou seja, o testemunho ou a citação de uma pessoa de competência reconhecida sobre determinado assunto. Como Mário Quintana ironiza essa técnica?

6. Caetano Veloso, na letra Sampa, afirma o seguinte: "Á mente apavora o que ainda não é mesmo velho". Que trecho do texto apresenta opinião semelhante?

7. Qual a diferença de postura entre o leitor dorminhoco, o leitor semidesperto e o leitor atento em relação à frase: " O Brasil não fugirá ao seu destino histórico"?

8. Marque a alternativa correta.

(a) Os leitores no Brasil são em regra acomodados e afeitos a lugares-comuns, o que justifica uma literatura convencional e bacharelesca.

(b) Os escritores no Brasil têm o dever de se conformar aos padrões ideológicos e expressivos dominantes no nosso bacharelismo, ajudando a assegurar a continuidade do nosso status quo.

(c) O poder no Brasil é exercido de forma anacrônica e conservadora, traduzindo-se culturalmente em preguiçoso bacharelismo literário.

(d) O Brasil tem uma sociedade estável e, no fundamental, bem estruturada, propiciando uma literatura e uma cultura em que o lugar-comum não se torna vicioso, pois é expressão de um consenso ideológico mais geral.
















I - Sequência Narrativa.
a)       Observe a imagem: "O Grito" - E. Münch" e elabore uma história.

b)       Não esqueça: situação inicial, complicação, clímax e desfecho


II - Sequência Descritiva.
a) Usar trechos descritivos ao longo da narrativa.
b) Cuidado com a coesão.( a coesão estabelece relação entre os trechos)
c) Cuidado com a coerência. Observar a junção das partes.


























Leia :
“Quem vive em São Paulo e no Rio de Janeiro, as duas maiores metrópoles do país, conhece bem seus problemas: desemprego, custo de vida elevado, favelização, poluição, caos no trânsito, precariedade no atendimento de saúde e aumento da violência urbana. Boa parte deles foi causada pelo crescimento desordenado das cidades e pela falta de planejamento urbano. Só em São Paulo, estima-se que haja cerca de 1,6 mil favelas, a maioria localizada em bairros da periferia. No Rio de Janeiro, enormes favelas convivem lado a lado com os bairros nobres da Zona Sul. [...]
Atualidade: Vestibular. 2003.
O parágrafo acima foi elaborado a partir de uma idéia principal. Qual é essa idéia?

O que ocasionou o fato a quê se refere esse parágrafo?

Elabore um parágrafo a partir do que você leu acima. Releia seu parágrafo e sublinhe a ideia principal.








































Camilinho vivia desconfiado que a gente devia ter um lugar escondido,só nosso, e andava sempre atrás adulando, oferecendo brinquedos, me deu uma lente de óculo, tão forte que até acendia papel no sol. Às vezes me dava remorso de ver o bestinha brincando sozinho uns brinquedos sem graça de botar besouro para carrear caixa de fósforo, fazer zorra que nunca zoava, ajuntar folha de folhinha; mas quando falei para Tenisão que a gente devia levar Camilinho ao menos uma vez pra ver os brinquedos da ilha, Tenisão deu na mala, disse que nem por um óculo, que ele era muito chorão, parecia moenda.
Acho que um dia Camilinho pombeou nós três e viu quando tiramos a jangada da moita e atravessamos para a ilha. Quando foi de noite, na porta da igreja, ele me perguntou onde a gente tinha ido na jangada, e outro dia na escola um tal de Estogildo, menino muito entojado que vivia passando rasteira nos outros, disse que ele também ia fazer uma jangada pra passear longe no rio. Depois eu vi Camilinho muito entretido com garrucha de taquara, dessas que jogam bucha de papel, uma mesma que eu tinha visto na mão de Estogildo. Eu não contei pra Tenisão pra ele não bater no Camilinho, porque de nós três ele era o que mais não gostava de Estogildo; mas aí eu principiei a desconfiar que o brinquedo na ilha ia acabar acabando?
E nem demorou muito, parece até que eles estavam só esperando uma vaza. Passamos uns dias sem ir lá porque Tenisão andou com dedo inchado com panariz,doía muito, foi preciso lancetar, e brinquedo sem ele desanimava. Nesses dias a gente ia pra beira do rio e ficava olhando a ilha. De longe ela parecia mais bonita, mais importante. Quando vimos o fumaceiro corremos lá eu e Cedil, Tenisão ainda não podia.
Estava tudo espandogado, a casa, a usina, os postes arrancados, o monjolinho revirado. Cedil chorava de soluço, corria pra cima e pra baixo mostrando os estragos, chamando a ruindade. Eu quase chorei também só de ver a tristeza dele. Para nós a ilha era brinquedo, para ele era consolo.
(José J. Veiga, A ilha dos gatos pingados. 6ª ed., Rio de Janeiro. Civilizações Brasileiras,1974)
1. Responda as questões seguintes, com base no texto " A ilha"
a)Quem é o autor do texto?

b)Quem é o narrador?

c) Qual a diferença entre autor e narrador?

d) Para conhecer bem este texto, você precisa saber mais sobre o autor, a infância dele. Por quê?

2.       No texto, qual a posição que o narrador assume?

a) Narrador-observador                                              
 b) Narrador-personagem
3. Quais os personagens que brincavam na ilha?

3.       para compor o texto, o narrador selecionou um conjunto de ações, opinões, fatos e falas das personagens relacionadas a um assunto central. Qual é ele?

a)A destruição dos brinquedos da ilha.
b)A destruição da ilha.
c)O sofrimento de Cedil.
d) Um incêndio ocorrido na ilha.

5. O texto pode ser dividido em 4 partes. Dê um título para cada parte.

6. Com que objetivo Camilinho dava presente para o narrador?

7. Por que Tenisão não aceitou que Camilinho fosse ver os brinquedos da ilha?

8.       Na sua opinião, porque a ilha para Cedil era um consolo?



Leia:

Somem Canivetes

Fica proibido o canivete
em aula, no recreio, em qualquer parte
pois num país civilizado
entre estudantes civilizadíssimos,
a nata do Brasil,
o canivete é mesmo indesculpável.

Recolham-se pois os canivetes
sob a guarda do irmão da Portaria

Fica permitido o canivete
nos passeios à chácara
para cortar algum cipó
descascar laranja
e outros fins de rural necessidade.

Restituam-se pois os canivetes
a seus proprietários
com obrigações de serem recolhidos
na volta do passeio, e tenho dito.

Só que na volta do passeio
verificou-se com surpresa:
no matinho ralo da chácara
todos os canivetes tinham sumido.
(Carlos Drummond de Andrade, Esquecer para lembrar, Rio de Janeiro, José Olympio, 1979. p. 105)



Estudando o texto:
1. Quem proibiu o uso de canivete?

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2. Que argumentos foram usados para a proibição do uso de canivete?


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3. Como podemos saber que o colégio é de uma Instituição religiosa?
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4.Qual o local que é permitido usar canivete?
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5. No poema há dois grupos: o que reprime e o que é reprimido identifique-os e opine quem tem razão.


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6. Identifique e marque a frase em que a palavra irmão tem o mesmo sentido do texto:

a) O irmão mais velho de Jorge é responsável pela família.
b) Nas horas de lazer, Irmão José explica-nos passagens da Bíblia.

7. Identifique o sentido com que a palavra ralo foi empregada na frase:

a) O ralo da pia está quebrado.
b) O capim está ralo.
c)Preciso de um ralo para ralar o queijo.
d)Os cabelos de Pedro está cada dia mais ralo.

8. Qual o sentido da palavra nata no poema de Drummond?
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9. Você acha certo ou errado as pessoas usarem canivete?
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10. O poema de Drummond fala de canivete ( uma arma), você é a favor ou contra o desarmamento do cidadão brasileiro? Justifique sua resposta.




Teste seus conhecimentos sobre Vidas secas
01. Leia o trecho e assinale a alternativa incorreta.
.Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou os quipás, os mandacarus e os xique-xiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, sinhá Vitória,
os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra.
(...) Entristeceu.
Considerar-se plantado em terra alheia! Engano. A sina dele era correr mundo, andar para cima e para baixo, à toa, como judeu errante. Um vagabundo empurrado pela seca."

a. Fabiano identifica melhoria na vida da família depois que se instalou na fazenda, mas a linguagem que emprega denuncia ironicamente os limites ,melhora, já que reduz sua humanidade ao comparar-se a bichos e plantas.
b. A expressão .estava plantado., do primeiro parágrafo, traduz a insatisfação do vaqueiro, que revela perceber o quanto é dependente da natureza e de uma terra que não é sua.
c. A expressão .entocara-se como bicho. refere-se ao modo pelo qual Fabiano se apropriara da fazenda desabitada, sem fazer alarde, na tentativa de não ser descoberto.
d. Entre os dois parágrafos transcritos ocorre contraste: inicialmente, Fabiano revela-se ingênuo por acreditar que dominava seu futuro, mas em seguida retifica sua euforia e expressa desilusão.
e. Nos dois parágrafos ocorre o emprego do discurso indireto livre, pelo qual o narrador acompanha as oscilações emocionais de Fabiano.

02. Assinale a alternativa correta sobre o trecho de Vidas secas.
.A princípio o vaqueiro não compreendeu nada. Viu apenas que estava ali um inimigo. De repente notou que aquilo era um homem e, coisa mais grave, uma autoridade. Sentiu um choque violento, deteve-se, o braço ficou irresoluto, bambo, inclinando-se para um lado e para outro. O soldado, magrinho, enfezadinho, tremia. E Fabiano tinha vontade de levantar o facão de novo. Tinha vontade, mas os músculos afrouxavam. Realmente não quisera matar um cristão: procedera como quando, a montar brabo, evitava galhos e espinhos. Ignorava os movimentos que fazia na sela. Alguma coisa o empurrava para a direita ou para a esquerda. Era essa coisa que ia partindo a cabeça do soldado amarelo. Se ela tivesse demorado um minuto, Fabiano seria um cabra valente. Não demorara."

a. Fabiano percebe que não tem força para matar o soldado amarelo e, tomado pela raiva contra a própria impotência, não controla seus movimentos.
b. Depois de ter sido afrontado pelo soldado amarelo, no episódio em que acabou preso por causa do jogo, Fabiano reencontra-se com a personagem no meio da caatinga, mas receia vingar-se simplesmente porque teme as represálias da força policial.
c. O soldado amarelo representa não apenas o poder autoritário, mas todo o mundo civilizado, ao qual Fabiano se esforça para integrar-se.
d. Fabiano não conseguia manter, naquele momento em que se deparava com o soldado amarelo, a agilidade e poder de resolução que caracterizava suas atividades como vaqueiro.
e. O estado emocional instável de Fabiano, provocado pelo encontro com o soldado amarelo, desgoverna-o, de modo que o personagem se deixa levar por um delírio, no qual se vê como assassino do soldado.

03. Cada um dos membros da família de Fabiano merece em Vidas secas um capítulo integralmente dedicado à apresentação da personagem e à exposição de um aspecto fundamental da vida dos retirantes.
Associe cada um desses quatro capítulos à interpretação adequada. Em seguida, assinale a alternativa que apresenta a associação correta.
( ) Fabiano.
( ) Sinha Vitória.
( ) O menino mais velho.
( ) O menino mais novo.
I. A incapacidade de compreender e de explicar o significado de um termo resulta em uma cena de desafeto, que registra não só os limites intelectuais/culturais dos integrantes da família de Fabiano, mas também uma hierarquia de poder, segundo a qual parece sempre haver alguém mais fraco na cadeia das relações sociais.
II. A percepção de que a vitória temporária não representa alteração fundamental na vida familiar concede um caráter crítico ao capítulo. Alia-se nesse crítica a consciência de que a cultura letrada não transforma a realidade, mas pode conceder poder àqueles que têm estudo e sabem se expressar bem.
III. A heroicidade do sertanejo é apresentada como uma perspectiva ingênua, infantil, que só leva em conta o aspecto aventuresco e não manifesta consciência do processo de desumanização provocado pela miséria e pela marginalização sócio-econômica.
IV. A despeito da situação de pauperismo em que vivem os retirantes, sobrevive a dimensão dos desejos, os sonhos de melhoria de vida. O fio de esperança que a personagem alimenta, a capacidade de manter previsões, amplia sua vida para além da sobrevivência diária e resguarda um mínimo de humanidade, que distingue seres humanos de outros animais.

a. (II) .Fabiano.; (I) .Sinha Vitória.; (IV) .O menino mais velho.; (III) .O menino mais novo.;
b. (II) .Fabiano.; (IV) .Sinha Vitória.; (I) .O menino mais velho.; (III) .O menino mais novo.;
c. (I) .Fabiano.; (IV) .Sinha Vitória.; (I) .O menino mais velho.; (II) .O menino mais novo.;
d. (III) .Fabiano.; (II) .Sinha Vitória.; (I) .O menino mais velho.; (IV) .O menino mais novo.;
e. (IV) .Fabiano.; (I) .Sinha Vitória.; (III) .O menino mais velho.; (II) .O menino mais novo..

04. Leia o trecho do capítulo .Fuga...Saíram de madrugada. Sinha Vitória meteu o braço pelo buraco da parede e fechou a porta da frente com a taramela. Atravessaram o pátio, deixaram na escuridão o chiqueiro e o curral, vazios, de porteiras abertas, o carro de bois que apodrecia, os juazeiros. (...) Desceram a ladeira, atravessaram o rio seco, tomaram rumo para o sul. Com a fresca da manhã, andaram bastante, em silêncio, quatro sombras no caminho estreito coberto de seixos miúdos (...)."

A partir da análise do trecho, é incorreto afirmar sobre o estilo de Graciliano Ramos: a. A narração é entremeada de elementos descritivos anunciados de modo breve, na medida necessária para indicar o estado de falência em que se encontrava a fazenda, assolada pela estiagem.
b. O narrador é atento a detalhes significativos, como o fato de sinha Vitória fechar a porta, que, se por um lado revela um cuidado desnecessário e mesmo descabido naquela situação, por outro enfatiza o apego que naturalmente se desenvolveu entre a família e o espaço físico da fazenda durante o período de chuvas.
c. Por ser uma obra regionalista, Vidas secas dá destaque à descrição da paisagem da caatinga, compondo uma pintura rica em detalhes, de modo a ressaltar a importância dos aspectos naturais na determinação da desgraça das personagens.
d. No trecho, há praticamente apenas quatro adjetivos (.abertas., .seco., .estreito. e .miúdos.) e
todos eles podem ser considerados .objetivos., isto é, contribuem para descrever de maneira
realista, sem a interferência emocional do observador, a paisagem.
e. As orações são apresentadas preferencialmente na ordem direta e formam períodos por coordenação, o que se ajusta à reconhecida simplicidade da linguagem de Graciliano Ramos.

05. Leia as afirmações e em seguida assinale a alternativa que as analisa corretamente.
I. Ao mesmo tempo que representam toda uma classe de seres humanos enjeitada ou simplesmente esquecida pela estrutura social, as personagens de Vidas secas não se reduzem a meras personagens-tipos, porque suas diversificadas vivências psicológicas, reveladas pelo discurso indireto livre, não são verossímeis, não correspondem ao gênero de reflexão que se espera de um sertanejo pobre.
II. A estrutura cíclica da obra é uma decisão estilística que denuncia o ponto de vista do autor: para o homem maltratado pela seca, desamparado de qualquer ajuda e destituído de poder, o bem-estar só pode ser compreendido como momento instável e transitório.
III. As limitações da linguagem que caracterizam a família de Fabiano indicam uma relação determinista de causa e efeito, segundo a qual a desnutrição e a impossibilidade de freqüentar a escola impossibilitam que os seres humanos consigam compreender a realidade que os cerca. Na obra, quem domina a linguagem consegue alterar a situação de miséria provocada pela seca.
a. somente a alternativa I está correta;
b. somente as alternativas I e II estão corretas;
c. somente as alternativas II e III estão corretas;
d. somente a alternativa II está correta;
e. nenhuma alternativa está correta.

Gabarito
01. Alternativa b.
02. Alternativa e.
03. Alternativa b.
04. Alternativa c.
05. Alternativa d.






Levei um monte de tempo me vestindo. Não tinha roupa que servisse. Não gosto de festas, bailes menos ainda. A Morecy faz 13 anos. Eu não sei que roupa a gente tem que pôr quando a melhor amiga da gente faz 13 anos. Pra falar a verdade, preferia te pego uma gripe e curtido febre na cama. Não pus o vestido verde porque fico com cara de defunto. O amarelo ficou dançando, acho que emagreci. Como sempre, acabei indo com o xadrezinho, que é meio manjado, mas me sinto bem.
Não consegui entrar em acordo com a minha cara no espelho. Não gosto do meu cabelo liso e muito fino. Nem da minha cara sem pó de arroz. Mas também de pó de arroz não fico bem.
Acho que levei umas duas horas me aprontando. Cheguei tarde, todo mundo já estava lá. Tinha luz negra, um montão de gente dançando e eu encabulei vendo o Luiz do outro lado do salão, conversando com os amigos.
Fiquei de pé também, falando com Maria Luíza, aquela bem alta que todo mundo tia sempre pra dançar porque é linda, parece Dominique Sanda. Pegamos uns copos com guaraná e ficamos bebendo, enquanto ela me contava a briga que tinha tido com a D. Rita. Depois nós fomos dançar sozinhas mesmo. E na quarta música o Luiz veio falar comigo.
Foi daí que a gente saiu pro terraço e ele perguntou se eu gostava mesmo dele. Disse que sim. E é verdade, eu gosto um pouco dele. Então ele disse que se eu gostava mesmo era pra eu dar um beijo nele. Eu dei, no rosto. Ele disse que ali não valia, tinha que ser na boca. Ele falava e sorria, mas eu percebi que ele estava um pouco sem jeito, porque toda hora olhava pros lados, pra ver se não vinha ninguém.
Daí ele pegou na minha mão e depois me abraçou e ficou falando que gostava muito de mim, que eu tinha um cabelo bem macio, e eu pensei que poderia ser macio, mas era fino e liso demais. Daí ele disse que não gostava de menina que usava pintura, que ficava com cara de palhaço e que eu era bem natural. Foi bem essa palavra que ele usou: natural. Achei engraçado falar assim, mas também achei legal ele falar desse jeito. Aí ele foi chegando, me beijando o cabelo, a testa, descendo pelo nariz e eu deixando porque vinha subindo em mim um calor gostoso, uma espécie de moleza que eu nunca tinha sentido antes...
(Mirna Pinsky. Iniciação. Belo Horizonte, Comunicação, 1980)
I – Compreensão e Interpretação do Texto
1. Quem é a principal personagem do texto? Dê duas características dela.
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2. Como essa personagem se sente em relação à festa?
_______________________________________________________________
3. Por que a narradora demora “umas duas horas” para se arrumar para a festa?
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4. Marque a alternativa correta em relação ao(s) sentimento(s) que a narradora precisou vencer para ir ao baile.
I – Medo II – Angústia III – Pânico IV – Insegurança V – Euforia
a) Apenas a I está correta.
b) Apenas a II e III estão corretas.
c) Apenas A I e IV estão corretas.
d) Apenas a II e V estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.
5. Muitas vezes o texto nos dá pista do tempo e do espaço da narração. Em sua opinião em que época este tipo de “paquera” ocorreu? Justifique sua resposta com elementos do texto.
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- Meu Deus,é ele!
Quem já conversou com um índio, assim um papo aberto, sobre futebol, religião, amor... ? A primeira ideia que nos vem é a da impossibilidade desse diálogo,risos, preconceito, talvez. O que dizer então da visão dos estrangeiros ,que pensam que andamos nus, atiramos em capivaras com flechas envenenadas e dançamos literalmente a dança da chuva pintados com urucu na praça da Sé ou na avenida Paulista?
Pois na minha escola no ano de 1995 ocorreu a matrícula de um índio. Um genuíno adolescente pataxó.
A funcionária da secretaria não conseguiu esconder o espanto quando na manhã de segunda-feira abriu preguiçosamente a portinhola e deparou-se com um pataxó sem camisa com o umbigo preto para fora, dois penachos brancos na cabeça e a senha número "um" na mão, que sem delongas disse:
– Vim matricular meu filho.
E foi o que ocorreu, preenchidos os papéis, apresentados os documentos, fotografias, certidões, transferências, alvarás, licenças etc. A notícia subiu e desceu rapidamente os corredores do colégio, atravessou as ruas do bairro, transpôs a sala dos professores e chegou à sala da diretora, que levantou e, em brado forte e retumbante, proclamou:
– Mas é um índio mesmo?
Era um índio mesmo. O desespero tomou a alma da pobre mulher; andava de um lado para o outro, olhava a ficha do novo aluno silvícola, ia até os professores, chamava dois ou três, contava-lhes, voltava à sala, ligava para outros diretores pedindo auxílio, até que teve uma idéia: pesquisaria na biblioteca. Chegando lá, revirou Leis, Decretos, Portarias, Tratados, o Atlas, Mapas históricos e nada. Curiosa com a situação, a funcionária questionou: – qual o problema para tanto barulho?
– Precisamos ver se podemos matricular um índio; ele tem proteção federal, não sabemos que língua fala, seus costumes, se pode viver fora da reserva; enfim, precisamos de amparo legal. E se ele resolver vir nu estudar, será que podemos impedir?
Passam os dias e enfim chega o primeiro dia de aula, a vinda do índio já era notícia corrente, foi amplamente divulgada pelo jornal do bairro, pelas comadres nos portões, pelo japonês tomateiro da feira, pelos aposentados da praça, não se falava noutra coisa. Uma multidão aguardava em frente da escola a chegada do índio, pelas frestas da janela, que dava para o portão principal, em cima das cadeiras e da mesa, disputavam uma melhor visão os professores – sem nenhuma falta –, a diretora, a supervisora de ensino e o delegado.
O porteiro abriu o portão – sem que ninguém entrasse – e fitou ao longe o final da avenida; surgiu entre a poeira e o derreter do asfalto um fusca, pneus baixos, rebaixado, parou em frente da escola, o rádio foi desligado, tal o silêncio da multidão que se ouviu o rangido da porta abrir, desceu um menino roliço, chicletes, boné do Chicago Bulls, tênis Reebok, calça jeans, camiseta, walkman nas orelhas, andou até o porteiro e perguntou:
– Pode assistir aula de walkman?
Edson Rodrigues dos Passos. In: Nós e os outros: histórias de diferentes culturas.São Paulo. Ática, 2001.


1. Na escola, tudo corria tranquilamente. O que vem mudar esta situação?

2. Por que a diretora consultou os documentos citados no texto?

3. Em quais documentos a diretora poderia encontrar amparo legal para matricular o índio?

4. Por que a comunidade tinha expectativa pela chegada do índio?

5. O menino pataxó correspondeu à expectativa que a comunidade tinha a respeito dele?

6. O menino chega mascando chicletes, usando boné do Chicago Bulls, tênis Reebok, calça jeans, walkman nas orelhas. A que cultura associamos os elementos citados?

7. Das frases abaixo, qual é a que mais se aproxima da questão cultural indígena tratada no texto?
a) É bom que todos tenham a oportunidade de partilhar os avanços tecnológicos.
b) É uma pena que os povos percam sua identidade.
c) Eu uso esses produtos, mas o índio usando é estranho.

8. A expressão brado retumbante aparece em um importante texto brasileiro. Você sabe qual?

9. Como o conflito se resolve no final?

10. Você acha normal a reação das pessoas ao ver um índio? Você também teria esta reação? Justifique sua resposta.






                A história acontece há mais de mil anos... Simbá era filho de um rico comerciante da Pércia e morava em Bagdá.
Quando seu pai morreu, ele herdou uma grande fortuna. Mas logo gastou todo o dinheiro em banquetes e festas e, quando se deu conta, estava sem nenhum tostão. Então, Simbá começou uma vida de grandes aventuras marítimas, em que conheceu reinos riquíssimos e criaturas assombrosas.
                Em uma dessas viagens, Simbá distraiu-se e não embarcou. Quando foi ver... o navio já estava longe.
Simbá saiu gritando pelos companheiros, mas não obteve resposta. Então, deu-se conta da tragédia: o navio já estava longe, no horizonte, e ele ficara sozinho na ilha.
                Desesperado, ele gritou, acenou, bateu na cabeça e jogou-se no chão, chorando.
- Como sou estúpido! Estava tão bem em minha casa, em Bagdá. Como é que resolvi meter-me em uma complicação dessas?
                Quando cansou de se lamentar, decidiu explorar o local. Percorreu toda à volta da ilha. Por fim, subiu em uma árvore bem alta e examinou o horizonte. Nenhuma outra terra ou navio, somente água e céu. Examinou melhor a ilha e acabou vendo uma coisa diferente. Ao longe, no meio de um descampado, havia uma mancha branca.
                Simbá desceu da árvore e seguiu naquela direção. Ao se aproximar, viu que se tratava de uma grande bola branca. Era toda lisa e tinha várias vezes a sua altura. “Quem terá construído isso aqui, e para quê?, perguntou-se. “Deve ter alguma porta.”
Rodeou a construção e não viu porta alguma. Deu outra volta, para medi-la. Tinha cerca de cinqüenta passos de circunferência. Tentou escalá-la, mas não conseguiu, pois a superfície da parede era escorregadia.
                Parou para pensar no que fazer. Naquele momento, uma espécie de nuvem escondeu o sol. Ele olhou para cima e ficou assombrado com o que viu. Era um pássaro gigantesco que vinha voando em sua direção.
                Na mesma hora, lembrou-se de histórias que tinha ouvido dos marinheiros. Eles garantiam que naquela região vivia um grande pássaro, que chamavam de Roca. Simbá compreendeu, então, o que estava acontecendo.
“Estou no ninho desse monstro voador”, pensou. “Essa grande bola é um ovo. Ele agora está vindo para chocá-lo.”
“As Mil e Uma Noites” – versão de Galland, apresentação de Malba Tahan. Ediouro.

1. Qual a situação de Simbá no início do texto?
..................................................................................................................................................................................................................2. Qual a reação se Simbá ao ver o navio longe?
.................................................................................................................................................................................................................
3. O que fez depois que se acalmou?
.................................................................................................................................................................................................................

4.Depois de subir em uma árvore, que coisa Simbá viu ao longe e que chamou muito sua atenção?
.................................................................................................................................................................................................................

5.Chegando perto do estranho objeto, o que percebeu Simbá?
.................................................................................................................................................................................................................

6.E o que pensou Simbá?
.................................................................................................................................................................................................................

7.Enquanto Simbá pensava no que fazer, algo de surpreendente aconteceu. O que foi?
.................................................................................................................................................................................................................
8.Nesse momento, do que se lembrou Simbá?
.................................................................................................................................................................................................................
9. Retire do texto 10 verbos.
.................................................................................................................................................................................................................


Leia esta fábula:
O sapo e o escorpião

Era uma vez um sapo e um escorpião que estavam parados à margem de um rio.
- Você me carrega nas costas para eu poder atravessar o rio? - perguntou o escorpião ao sapo.
- De jeito nenhum. Você é a mais traiçoeira das criaturas. Se eu te ajudar, você me mata em vez de me agradecer.
- Mas, se eu te picar com meu veneno - respondeu o escorpião com uma voz terna e doce -, morro também. Me dê uma carona. Prometo ser bom, meu amigo sapo.
O sapo concordou.
Durante a travessia do rio, porém o sapo sentiu a picada mortal do escorpião.
- Por que você fez isso, escorpião? Agora nós dois morreremos afogados! - disse o sapo.
E o escorpião simplesmente respondeu:
- Por que esta é minha natureza, meu amigo sapo. E eu não posso mudá-la.

(Heloisa Prieto. O livro dos medos. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998. p. 25)


1. Retire do texto os pronomes e classifique-os.

2. Por que o sapo não queria levar o escorpião nas costas?

3. Qual o argumento utilizado pelo escorpião?

4. No final da fábula a palavra la na expressão mudá-la se refere a que termo, citado anteriormente?

5. Qual das frases a seguir podem servir de moral da fábula em estudo? Marque uma altrnativa

a) É burrice tentar ser uma coisa que não se é.

b) Seja sempre você mesmo.

c)Devagar e sempre se chega na frente.

d)Fazer a coisa certa na hora certa é uma grande arte.

e) Nada elimina o que a natureza determina.
















1. Leia atentamente o texto seguinte e, depois, responda às questões.

Coisas do Meu Sertão




Seu dotô, que é da cidade
Tem diproma e posição
E estudou derne minino
Sem perdê uma lição,
Conhece o nome dos rios,
Que corre inriba do chão,
Sabe o nome de estrela
Que forma constelação,
Conhece todas as coisa
Da historia da criação
E agora qué i na Lua
Causando admiração,
Vou fazê uma pergunta,
Me preste bem atenção:
Pruque não quis aprendê
As coisa do meu sertão?

Por favô, não negue não
Quero que o sinhô me diga
Pruquê não quis o roçado
Onde se sofre de fadiga,
Pisando inriba do toco,
Lacraia, cobra e formiga,
Cocerento de friêra,
Incalombado de urtiga,
Muntas vez inté duente,
Sofrendo dô de barriga,
Mas o jeito é trabaiá
Que a necessidade obriga.
(...)

(Patativa do Assaré)




derne: forma regional, equivalente a desde.
inriba: forma regional, equivalente a em cima, sobre.
incalombado: cheio de calombos.
a) Como você acha que é o sertanejo do poema de Patativa do Assaré?
b)Você conhece alguém que fale do mesmo modo que o sertanejo? De que região do Brasil é essa pessoa?
c)Reescreva na língua padrão os seguinte versos:
"Tem diproma e posição E estudou drne minino Sem perdê uma lição, Conhece o nome dos rios, Que corre inriba do chão,"
d) Como você imagina que é o "dotô" a quem o sertanejo dirige a palavra?
e)Quem fala "mais correto" o sertanejo ou o doutor? Justifique a sua resposta.
f) No Brasil existem contrastes tão grandes como o "dotô" e o sertanejo "coerento de frieira". Esse contraste é facilmente notado na maneira de falar dessas pessoas?
Antônio Gonçalves da Silva, dito Patativa do Assaré, nasceu a 5 de março de 1909 na Serra de Santana, pequena propriedade rural, no município de Assaré, no Sul do Ceará. É o segundo filho de Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva. Foi casado com D. Belinha, de cujo consórcio nasceram nove filhos. Publicou Inspiração Nordestina, em 1956, Cantos de Patativa, em 1966. Em 1970, Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados Patativa do Assaré. Tem inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em revistas e jornais.
Cresceu ouvindo histórias, os ponteios da viola e folhetos de cordel. Em pouco tempo, a fama de menino violeiro se espalhou. Com oito anos trocou uma ovelha do pai por uma viola. Dez anos depois, viajou para o Pará e enfrentou muita peleja com cantadores. Quando voltou, estava consagrado: era o Patativa do Assaré. Nessa época os poetas populares vicejavam e muitos eram chamados de 'patativas' porque viviam cantando versos. Ele era apenas um deles. Para ser melhor identificado, adotou o nome de sua cidade.
Patativa só passou seis meses na escola. Isso não o impediu de ser Doutor Honoris Causa de pelo menos três universidades. Não teve estudo, mas discutia com maestria a arte de versejar. Desde os 91 anos de idade com a saúde abalada por uma queda e a memória começando a faltar, Patativa dizia que não escrevia mais porque, ao longo de sua vida, 'já disse tudo que tinha de dizer'. Patativa morreu em 08 de julho de 2002 na cidade que lhe emprestava o nome.





Dieta do homem

                Nas carteiras da escola me ensinaram, segundo o sábio Claude Bernard, que o caráter absoluto da vitalidade é a nutrição; pois, onde existe, há via; onde se interrompe, há morte.
                Mas não me disseram que, entre os animais humanos, o lado que pende para a morte, por falta de nutrição, é mais numeroso que o lado erguido para a vida.
                Me ensinaram que os alimentos fornecem ao homem os elementos constituintes da própria substância humana; o homem é o alimento que ele come.
                Mas não me disseram que existem homens aos quais faltam os elementos que constituem o homem. Homens incompletos, homens mutilados em sua substância, homens deduzidos de certas propriedades humanas fundamentais; homens vivendo o processo de morte.
                Me ensinaram, no delicado modo condicional, que, sem o concurso de certos alimentos minerais e orgânicos, depressa a vida sobre a terra se extinguiria.
                Mas não me disseram que, depressa, por toda parte, a vida se extingue, no duro modo indicativo.
                Me ensinaram que o oxigênio é o primeiro elemento indispensável.
                Mas não me disseram que só o oxigênio é um bem comum de toda humanidade, salvo em minas e galerias, onde é escasso.
                Me ensinaram que o carbono, o hidrogênio, o azoto, o fósforo e ouros minerais são decisivos à vitalidade da célula.
Mas não me disseram (por óbvio, mas eu era um estudante tão distraído) que aqueles elementos não se encontram no ar que respiramos. E ainda que se encontrem na terra, acaso digerida por uma criança, seu poder de assimilação é nenhuma.
                Me ensinaram que há alimentos orgânicos ternários e quaternários.
                Mas não me disseram que dois terços de nossos irmãos no mundo passam fome. (...)
                                                                                            Paulo Mendes Campos. O anjo bêbado. Rio de janeiro, Sabiá, 1969.
I – Compreensão e interpretação do texto:
1. Qual das frases abaixo resume melhor o que a escola ensinou?
a) Princípios de uma dieta equilibrada.
b) Noções sobre combate a fome
c) Informações sobre elementos essenciais à vida.
d) Característica da alimentação humana

2.)  Dê sua opinião: como terá o autor descoberto o que não disseram na escola?

3)  Qual o sentido da palavra dieta dentro do texto?

4)  Retire do texto 10 substantivos e classifique-os.

5)  Retire do texto 5 pronomes e classifique-os.

















Literatura




“ Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.”
Mário Quintana
1. Associe o texto da coluna de cima as características em evidência na coluna de  baixo, numerando os parênteses.

I. “ Eu porém nunca vencido./ Nem nos combates por armas./ Nem por nobreza nos atos...”
II. “ Vinte anos! Derramei-os gota a gota./ Num abismo de dor e esquecimento.../ De fogosas visões nutri meu peito.../
III. “ Lerás porém algum dia./ Meu versos, d´alma arrancados./ D´amargo pranto banhados....”
IV. “ Quero morrer cercado dos perfumes./Dum clima tropical./E sentir, expirando as harmonias./ |Do meu berço natal!”
V. “ Perdão, Senhor, meu Deus! Busco-te embalde/ Na Natureza inteira! O dia, a noite...”
VI. “ Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!/ Desce mais, inda mais...não pode o olhar humano.../que cena funeral...Que tétricas figuras...

( ) Intenção reformista
( ) Idealização do homem
( ) Sentimento de desilusão
( ) Panteísmo
( ) Nacionalismo
( ) Sentimentalismo exagerado

2. “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Você diria que esse é um lema romântico? Justifique.

3. O homem de todas as épocas se preocupa com a natureza. Cada período a vê de modo particular. No Romantismo, a natureza aparece como:

a) um cenário cientificamente estudado pelo homem; a natureza é mais importante que o elemento humano.
b) Um cenário estático, indiferente; só o homem se projeta em busca de sua realização.
c) Um cenário sem importância nenhuma.
d) Confidente do poeta, que compartilha seus sentimentos coma a paisagem; a natureza se modifica com o estado emocional do poeta.

4.       Assinale a alternativa falsa:
a) O Romantismo, como estilo, não é modelado pela individualidade do autor; a forma predomina sempre sobre o conteúdo.
b) O Romantismo é um movimento de expressão universal, inspirado nos modelos medievais.
c) O Romantismo caracterizou-se por um complexo de características como o subjetivismo, o ilogismo, o senso de mistério, o exagero, o culto a natureza e o escapismo.






Leia:

Olha, Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o tejo, a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?
Vê como ali beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta inocentes.
As vagas borboletas de mil cores!

Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha pára,
Ora nos ares sussurrando gira.

Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira,
Mais tristezas que a morte me causara.

BOCAGE in obra de Bocage

1. Transcreva um fragmento que caracterize o pastoralismo típico do Arcadismo.

2. Transcreva duas passagens que demonstre o bucolismo.

3. Uma das características é a retomada de elementos da mitologia clássica. Que elementos dessa natureza aí aparecem?

4. Poderíamos dividir esse poema em duas partes: uma que enfatiza o cenário, e outra que se refere ao sentimento do eu lírico. Quais versos compõem cada uma das partes?

5. Apesar de ser convencionalmente árcade, o poeta representa um elemento que já pode ser considerado uma antecipação do Romantismo: uma visão subjetiva da natureza: Explique essa afirmação.




Atividade Escrita - Arcadismo

1. O Arcadismo:
a) expressou numa linguagem mais simples a religiosidade barroca.
b) aprofundou a literatura espiritualista do século anterior.
c)não retomou a temática religiosa que marcou a época barroca.
d) utilizou uma linguagem tão rebuscada quanto a linguagem barroca.


2. Todas as afirmações abaixo estão corretas, exceto uma. Identifique-a:
a) O bucolismo é uma das características da poesia arcádica.
b) Os poetas do Arcadismo usaram o pseudônimos grego latinos.
c) O carpien diem foi um dos temas frequentes dos poetas parcades.
d) A busca da paz interior na vida campestre revela angústia religiosa dos poetas árcades.


3. A busca da simplicidade e a descoberta da felicidade pela integração do homem na natureza, em oposição ao artificialismo formal e à angústia dos conflitos entre o Bem e o Mal, são algumas características que contrapõem:
a) O Arcadismo ao Classicismo.
b) O Arcadismo ao Barroco.
c) O Arcadismo ao Parnasianismo.
d) O Arcadismo ao Romantismo.

4. Considere as seguintes características:
I. Valorização da natureza como padrão de harmonia.
II. Dilaceramento do homem entre os apelos carnais e valores do espírito.
III. Figuração do poeta e da musa como personagens integradas na vida amena do campo.

As características acima estão corretamente associadas a dois estilos de época em:

a) Romantismo = I; Arcadismo = II e III
b) Arcadismo = I e II; Barroco = III
c)Arcadismo = I e III; Barroco = II
d)Arcadismo = II; Barroco = I e III
e) Arcadismo = I; Barroco = II e III.


5. leia:
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino.
Sobre esses versos é correto afirmar que:
a) representa o ideal árcade de valorização da vida simples e natural, por oposição ao luxo e artificialismo das cidades.
b) expressam a temática romântica que elege a terra natal como valor nacionalista por excelência.
c) traduzem a simulação, na poesia do Arcadismo, do pastor que declara seu amor à pastora.
d) revelam o convite a viver intensamente a vida, aproveitar o dia (carpen diem), característico do Barroco e Arcadismo.






Resposta: c

Resposta: d


Resposta: b

Resposta: c

Resposta: a











































   
  SAINDO DE COMA
      Filas de doentes à espera de um médico e pacientes agonizando em corredores de hospital aguardando um leito. Essas são imagens correntes quando se fala em saúde pública. Em algumas cidades brasileiras, porém, com soluções alternativas foi possível suavizar esse quadro. Nesses lugares, o cidadão recebe em sua própria casa a visita de médicos, os doentes mentais não são afastados do convívio familiar e recebem salários em razão da laborterapia. Os diversos programas alternativos desenvolvidos no País mostram que é possível oferecer qualidade nos serviços ao mesmo tempo em que se economizam recursos públicos.
      Em Campinas, no interior de São Paulo, a prefeitura começa, em agosto, a atender em casa pacientes com Aids. Esse é o segundo passo de um projeto de sucesso de atendimento a doentes com dificuldades de locomoção, que há dois anos recebem periodicamente a visita de uma equipe formada por médicos, terapeutas e enfermeiros. O Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD) cuida atualmente de 108 pacientes. "Não sei o que faria sem esse serviço", avalia Irene Albuquerque, filha de Maria Antonieta Nogueira, 98 anos, portadora do mal de Alzheimer, doença que afeta o sistema nervoso. Maria Antonieta passa o tempo todo na cama e desenvolveu uma enorme ferida na região lombar. Os enfermeiros do SAD fazem curativos diários na paciente. Para manter todo o programa, a prefeitura gasta R$ 112 mil por ano, o equivalente a 0,1% do orçamento municipal destinado à saúde.
      O atendimento domiciliar também vem sendo aplicado em Santos (SP). Lá, gestantes e recém-nascidos são beneficiados por um trabalho preventivo de sucesso. A mortalidade infantil caiu de 33 para 22 a cada mil nascidos, nos últimos cinco anos, graças ao Sistema de Vigilância do Recém-Nascido de Risco. Programa semelhante foi adotado em Porto Alegre (RS), onde todo recém-nascido que apresenta algum tipo de problema passa a receber visitas médicas periódicas, caso a mãe não compareça ao posto de saúde nas datas estipuladas. Na capital gaúcha, a partir deste mês, os contribuintes poderão, por telefone, agendar dia e hora para receber a visita do doutor. Os doentes mentais foram os primeiros a ser beneficiados com as formas alternativas de tratar a saúde pública. A palavra de ordem é esvaziar os sanatórios. As guias de internação emitidas pela prefeitura de Betim (MG) aos manicômios praticamente desapareceram. Em 1992, o Hospital Galba Veloso, de Belo Horizonte, registrava uma média de 52 dessas guias por mês. Hoje, são apenas três. Os pacientes passam o dia em três Centros de Referência e à noite vão para casa. Os frutos da maior convivência social dos doentes mentais são marcantes, também em Santos. No litoral paulista, os ex-internos da Casa de Saúde Anchieta fazem a produção e locução do Rádio Tam-Tam, um programa que vai ao ar diariamente na Rádio Cacique. Alguns ex-internos hoje trabalham na Usina de Reciclagem de Alemoa e recebem um salário mínimo por mês. "Essa experiência permite uma redução de 40% nos gastos com a saúde", diz o secretário de Higiene e Saúde de Santos, Cláudio Maierovitch.
      Mas a grande novidade prevista para o sistema de saúde pública está empacada. Trata-se do Plano de Assistência à Saúde (PAS), do prefeito paulista Paulo Maluf. Ele quer transferir a gerência dos hospitais e postos de saúde municipais para cooperativas médicas licenciadas pela prefeitura. O problema é que Maluf resolveu começar o projeto antes de ele ser aprovado pela Câmara de Vereadores. O resultado foi uma pendenga jurídica e a paralisia do programa, que só deverá ser votado pelos vereadores este mês. O governo estadual também patina na implantação de políticas alternativas de saúde pública. A administração Mário Covas está liquidando o Programa Médico de Família, implantado em 1989 pelo então secretário de Saúde e hoje deputado federal (PMDB) José Aristodemo Pinotti. "O Estado alugava uma casa onde o médico deveria morar e atender a 400 famílias daquele bairro", explica o deputado. Foram instaladas 20 unidades na capital. Hoje, restam dez. O projeto foi copiado por outros Estados e chegou a ser premiado pela ONU.
      (Isto É 1348 - 2/8/95)
      1. O texto focaliza:
a.            as conseqüências da política de saúde do governo sobre esse setor
b.            um programa de saúde alternativo que vem tratando dos doentes com qualidade
c.            os desvios de verba destinada à saúde por prefeituras do interior
d.            um programa de revitalização dos hospitais públicos através de compra de equipamentos
e.            um tratamento pioneiro para pacientes que se apresentam em estado de coma em hospitais públicos
      2. Todas as afirmações abaixo, basadas no texto, estão corretas, exceto:
a.            Há humanização no tratamento dos doentes mentais, por não serem privados do convívio social.
b.            Houve redução na mortalidade infantil em Santos, o que prova a efetividade e eficiência do programa.
c.            Ao contrário do que se poderia imaginar, saúde com qualidade não implica onerar os cofres públicos.
d.            O texto fala de uma situação de saúde pública que se opõe à encontrada na maioria das cidades do país.
e.            Os programas têm revelado qualidade de operação e pouca originalidade de concepção.
      3. De acordo com o texto, a saúde pública está marcada pela:
      a) insuficiência d) humanização
      b) praticidade e) coerência
      c) incompreensão
      4. São características dos diversos programas alternativos da saúde, exceto:
      a) o atendimento domiciliar
      b) a permanência do doente junto à família
      c) a modernização dos hospitais
      d) o esvaziamento dos manicômios
      e) os gastos pouco significativos
      5. Todas as passagens abaixo, extraídas do texto, referem-se a um mesmo quadro, exceto:
a.            "A mortalidade infantil caiu de 33 para 22 a cada mil nascidos."
b.            "Não sei o que faria sem esse serviço."
c.            "os ex-internos (...) fazem a produção e a locução do Rádio Tam-Tam."
d.            "Maria Antonieta passa o tempo todo na cama e desenvolveu enorme ferida."
e.            Alguns ex-internos trabalham hoje na Usina de Reciclagem de Alemoa."
      6. No trecho "... a prefeitura começa, em agosto, a atender em casa pacientes com Aids", o texto mostra que:
a.            os hospitais não têm estrutura para atender os aidéticos
b.            o sistema de saúde não se responsabiliza pelo tratamento dos aidéticos
c.            os aidéticos terão acesso a um atendimento de qualidade através do programa alternativo
d.            a discriminação contra aidéticos chega ao ponto de não se permitir que saiam de casa
e.            a prefeitura de Campinas se preocupa em não contaminar os hospitais com o vírus da Aids
      7. No programa adotado em Porto Alegre, observa-se que:
a.            é dada assistência a todos os recém-nascidos
b.            a queda da mortalidade infantil passou de 33 para 22 a cada mil nascidos
c.            a mãe é obrigada a comparecer aos postos de saúde municipais
d.            todos os recém-nascidos recebem visitas médicas periódicas
e.            a assistência é dada, mesmo sem que a mãe obedeça aos prazos
      8. Aponte a passagem que não realça os benefícios obtidos pelos doentes mentais com o programa alternativo:
a.            "... os doentes mentais não são afastados do convívio familiar"
b.            "A palavra de ordem é esvaziar os sanatórios"
c.            "... os contribuintes poderão, por telefone, agendar dia e hora para receber a visita do doutor"
d.            "Os pacientes passam o dia em três centros de referência e à noite vão para casa"
e.            "Alguns ex-internos hoje trabalham na Usina de Reciclagem de Alemoa"
      9. Em relação ao seu autor, o Programa Médico de Família, revela, hoje:
      a) injustiça                                              d) desonra
      b) favorecimento                                      e) punição
      c) reconhecimento





      A Quinta História
      Esta história poderia chamar-se "As Estátuas". Outro nome possível é: "O Assassinato". E também "Como Matar Baratas". Farei então pelo menos três histórias, verdadeiras porque nenhuma delas mente a outra. Embora uma única, seriam mil e uma, se mil e uma noites me dessem.
      A primeira, "Como Matar Baratas", começa assim: queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me a queixa. Deu-me a receita de como matá-las. Que misturasse em partes iguais açúcar, farinha e gesso. A farinha e o açúcar as atrairiam, o gesso esturricaria o de-dentro delas. Assim fiz. Morreram.
      A outra história é a primeira mesmo e chama-se "O Assassinato". Começa assim: queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me. Segue-se a receita. E então entra o assassinato. A verdade é que só em abstrato me havia queixado de baratas, que nem minhas eram: pertenciam ao andar térreo e escalavam os canos do edifício até o nosso lar. Só na hora de preparar a mistura é que elas se tornaram minhas também. Em nosso nome, então, comecei a medir e pesar ingredientes numa concentração um pouco mais intensa. Um vago rancor me tomara, um senso de ultraje. De dia as baratas eram invisíveis e ninguém acreditaria no mal secreto que roía casa tão tranqüila. Mas se elas, como os males secretos, dormiam de dia, ali estava eu e preparar-lhes o veneno da noite. Meticulosa, ardente, eu aviava o elixir da longa morte. Um medo excitado e meu próprio mal secreto me guiavam. Agora eu só queria gelidamente uma coisa: matar cada barata que existe. Baratas sobem pelos cantos enquanto a gente dorme, cansada, sonha. E eis que a receita estava pronta, tão branca. Como para baratas espertas como eu, espalhei habilmente o pó que este mais parecia fazer parte da natureza. De minha cama, no silêncio do apartamento, eu as imaginava subindo uma a uma até a área de serviço onde o escuro dormia, só uma toalha alerta no varal. Acordei horas depois em sobressalto de atraso. Já era de madrugada. Atravessei a cozinha. No chão da área estavam elas, duras, grandes. Durante a noite eu matara. Em nosso nome, amanhecia. No morro um galo cantou.
      A terceira história que ora se inicia é a das "Estátuas". Começa dizendo que eu me queixara de baratas. Depois vem a mesma senhora. Vai indo até o ponto em que, de madrugada, acordo e ainda sonolenta atravesso a cozinha. Mais sonolenta que eu está a área na sua perspectiva de ladrilhos. E na escuridão da aurora, um arroxeado que distancia tudo, distingo a meus pés sombras e brancuras: dezenas de estátuas se espalham rígidas. As baratas que haviam endurecido de dentro para fora. Algumas de barriga para cima. Outras no meio de um gesto que não se completaria jamais. Na boca de umas um pouco de comida branca. Sou a primeira testemunha do alvorecer de Pompéia. Sei como foi esta última noite. Sei da orgia do escuro. Em algumas o gesso terá endurecido tão lentamente como num processo vital, e elas, com movimentos cada vez mais penosos, terão sofregamente intensificado as alegrias da noite, tentando fugir de dentro de si mesmas. Até que de pedra se tornam, em espanto de inocência, e como tal, tal olhar de censura magoada. Outras - subitamente assaltadas pelo próprio âmago, sem nem sequer ter tido a intuição de um molde interno que se petrificava! - essas de súbito se cristalizam, assim como a palavra é cortada da boca: eu te...
      Elas que, usando o nome de amor em vão, na noite de verão cantavam. Enquanto aquela ali, a de antena marrom suja de branco terá adivinhado tarde demais que se mumificara exatamente por não ter sabido usar as coisas com a graça gratuita do em vão: "é que olhei demais para dentro de mim" é que olhei demais para dentro de..." - de minha fria altura de gente olho a derrocada de um mundo. Amanhece. Uma ou outra antena de barata morta freme seca à brisa. Da história anterior canta o galo.
      A quarta narrativa inaugura nova era no lar. Começa como se sabe: queixei-me de baratas. Vai até o momento em que vejo os monumentos de gesso. Mortas, sim. Mas olho para os canos, por onde esta mesma noite renovar-se-á uma nova população lenta e viva em fila indiana. Eu iria então renovar todas as noites o açúcar letal? como quem já não dorme sem a avidez de um rito. E todas as madrugadas me conduziria sonâmbula até o pavilhão? no vício de ir ao encontro das estátuas que minha noite suada erguia. Estremeci de mau prazer à visão daquela vida dupla de feiticeira. E estremeci também ao aviso do gesso que seca: o vício de viver que rebentaria meu molde interno. Áspero instante de escolha entre dois caminhos que, pensava eu, se dizem adeus, e certa de que qualquer escolha seria do sacrifício: eu ou minha alma. Escolhi. E hoje ostento secretamente no coração uma placa de virtude: "Esta casa foi dedetizada".
      A quinta história chama-se "Leibnitz e a Transcendência do Amor na Polinésia". Começa assim: queixei-me de baratas. (Clarice Lispector)
      1. No trecho "Farei então pelo menos três histórias, verdadeiras porque nenhuma delas mentem a outra. Embora uma única, seriam mil e uma, se mil e uma noite me dessem.", o narrador:
a.           apresenta sua história como quadros que, embora formem uma unidade, podem se multiplicar infinitamente
b.           conta histórias que não mentem uma a outras, pois de estruturam na sua experiência cotidiana
c.            compara seu texto à história das "Mil e uma Noites", somente em um processo de gradação dos fatos
d.           lamenta o fato de não ter mil e uma noites para desenvolver sua história, pois não lhe deram tempo suficiente
e.           afirma que irá escrever três histórias. No entanto, ao longo do texto, cinco histórias são apresentadas. Isso denota uma falta de coerência entre a introdução e o desenvolvimento do conto
      2. De acordo com o texto, o narrador, ao contar a história:
a.           coloca-se como observador dos fatos, conferindo uma superficialidade na análise da personagem
b.           participa dos fatos, portanto personagem e observador, conferindo uma visão parcial da realidade presente no texto
c.            é, ao mesmo tempo, personagem e observador, pois relata fatos seqüenciais dos quais foi participante
d.           é onisciente, personagem e, a partir da sua experiência do cotidiano, relata os fatos de maneira detalhista e profunda
e.           é personagem, mas passa a ser também observador ao relatar a multiplicidade de histórias dentro de uma mesma história
      3. A partir da leitura do texto, pode-se afirmar que:
a.           o assunto é banal, pois se restringe a contar o cotidiano de uma personagem envolvida com os problemas do extermínio de baratas
b.           através de um assunto trivial, o conto busca mostrar a banalidade da existência humana de uma maneira trágica, principalmente na quarta narrativa
c.            a primeira história, "Como Matar Baratas", confirma a banalidade do conto, pois se resume a um receituário sobre como eliminá-las
d.           o conto distancia-se de sua temática principal para remeter a um fato real, pois, através de um processo metafórico, compara a morte das baratas ao trágico destino das pessoas de Pompéia, o que é irrelevante ao contexto da história
e.           percebemos, no conto, um processo ritualístico, repetitivo - adquirido através de um fluxo psicológico - o que acarreta uma narrativa lenta e monótona, só dinamizada na primeira história
      4. Observa-se a partir do final "A quinta história chama-se ‘Leibnitz e a Transcendência do Amor na Polinésia’. Começa assim: queixei-me de baratas", que:
      a) a constante repetição da frase "queixei-me de baratas" torna o final inesperado e inconsistente, pois o narrador não concluiu a história
      b) o título escolhido, que centra a história na Polinésia, mostra que o problema do extermínio de baratas encontra-se no mundo inteiro
      c) o responsável pela quinta história é o leitor, uma vez que o narrador já não tem mais nada a dizer
      d) há um processo cíclico, visto que inexiste uma conclusão convencional percebida através da retomada constante da frase "queixei-me de baratas"
      e) inexiste uma conclusão convencional, pois, sendo uma narrativa moderna, já é esperado um final abrupto e desconectado com o restante da história





      João Soares estava com a razão: política só se ganha com muito dinheiro. A começar pelo alistamento, que é trabalhoso e caro: tem-se de ir atrás de eleitor por eleitor, convencê-los a se alistarem, e ensinar tudo, até a copiar o requerimento. Cabo de enxada engrossa as mãos - e o sedenho das rédeas, o laço de couro cru, machado e foice também. Caneta e lápis são ferramentas muito delicadas. A lida é outra: labuta pesada, de sol a sol, nos campos e nos currais. E quem perdeu tempo com leitura e escrita, em menino, acaba logo esquecendo-se do pouco que aprendeu. Ler o quê? Escrever o quê? Mas agora é preciso: a eleição vem aí, e o título de eleitor rende a estima do patrão, a gente vira pessoa. Acontece, também, que Pé-de-Meia não quer saber de histórias: é cabo eleitoral alistador de gente, pago por cabeça, e tem de mostrar serviço. Primeiro, a conversa pacienciosa, amaciando o terreno; a luta, depois: "- Minha vista anda que é uma barbaridade. E de uns tempos para cá, apanhei uma tremedeira que a mão não me pára mais quieta... "O novato sua, desiste:" - Vai não, Pé-de-Meia." Mas o cabo é jeitoso: não força, não insiste - espera. Tempo só de passar a gastura que a caneta sempre dá no principiante. Tão fácil... - o requerimento já está pronto, rascunhado no papel almaço a lápis fininho, macio de apagar: "João Francisco de Oliveira, abaixo assinado, brasileiro, residente ... "Qual ... minha vista não presta mesmo mais não. Besteira teimar ... "Pé-de-Meia não deixa afrouxar o embalo: "- Me dá licença, seu João." E pega no mãozão cascudo, pesado tal um caminhão de tora. Vai choferando a bicha, para cima e para baixo, caminhando com ela por sobre o papel; o rastro fica: primeiro, a foice espigada do jota; depois, a laçada bamba do ó; em seguida, mais duas voltas grandes, repassadas e atreladas uma à outra. Aos poucos João Francisco aprende a relaxar a mão, descobre que não carece de fazer tanta força, já não molha de suor o papel. Animal bom de sela, agora, maneiro de queixo e ligeiro de rédea, a mão passeia pela dúzia e tanto dos trechos alinhados, um sob o outro, no comprido requerimento.
      Quando o caboclo é ruim de ensino, Pé-de-meia é quem enche todo o papel, borrando-o de propósito, errando de velhaco, completando um perfeito e indiscutível requerimento de eleitor da roça. Mas, quando o cujo é jeitoso de moda do João Francisco, Pé-de-Meia prefere carregar-lhe a mão durante o serviço todo - do "Exmo. Sr. Doutor Juiz de Direito" até o "P.D." que precede a assinatura (...) "- Pois está ficando um serviço de gente, Seu João. O senhor até que tem jeito - um letraço!
      (Mário Palmério - Vila dos Confins - Adaptado)
      130. O texto põe em evidência a(s):
      a) obrigatoriedade do voto
      b) elegibilidade do voto
      c) preparação do eleitor
      d) resistência do eleitor ao processo eleitoral
      e) sanções estabelecidas pela justiça eleitoral
      131. A remuneração do cabo eleitoral depende da(o):
      a) sua produtividade no trabalho
      b) vitória do candidato
      c) generosidade do eleito
      d) capacidade de aprendizagem do caboclo
      e) prestígio político do candidato
      132. (...) "borrando-o de propósito, errando de velhaco" (l. 28). O objetivo de Pé-de-Meia era:
      a) invalidar de vez o requerimento
      b) forjar a autenticidade do documento
      c) menosprezar a capacidade do eleitor
      d) dificultar o alistamento do eleitor
      e) facilitar a identificação do documento
      133. (FUVEST) "O Ministério da Fazenda descobriu uma nova esperteza no Instituto de Resseguros do Brasil. O Instituto alardeou um lucro no primeiro semestre de 3,1 bilhões de cruzeiros, que esconde na verdade um prejuízo de 2 bi. Brasil, Cuba e Costa Rica são os três únicos países cujas empresas de resseguros são estatais.( Veja, 1/9/93, pág. 31)
      Conclui-se do texto que seu autor:
a.           acredita que a esperteza do Instituto de Resseguros gerou lucro e não prejuízo.
b.           dá como certo que o prejuízo do Instituto é maior do que o lucro alardeado.
c.            julga que o Instituto de Resseguros agiu de boa fé.
d.           dá a entender que é contrário ao fato de o Instituto de Resseguros ser estatal.
      tem informação de que GOLS DE COCURUTO
      O melhor momento do futebol para um tático é o minuto de silêncio. É quando os times ficam perfilados, cada jogador com as mãos nas costas mais ou menos no lugar que lhes foi designado no esquema - e parados. Então o tático pode olhar o campo como se fosse um quadro negro e pensar no futebol como alguma coisa lógica e diagramável. Mas aí começa o jogo e tudo desanda. Os jogadores se movimentam e o futebol passa a ser regido pelo imponderável, esse inimigo mortal de qualquer estrategista. O futebol brasileiro já teve grandes estrategistas cruelmente traídos pela dinâmica do jogo. O Tim, por exemplo. Tático exemplar, planejava todo o jogo numa mesa de botão. Da entrada em campo até a troca das camisetas, incluindo o minuto de silêncio. Foi um técnico de sucesso mas nunca conseguiu uma reputação no campo à altura da sua reputação de vestiário. Falava um jogo e o time jogava outro. O problema do Tim, diziam todos, era que seus botões eram mais inteligentes do que seus jogadores.
      (L.F. Veríssimo. O Estado de São Paulo, 23/08/93)
      134. A tese que o autor defende é a de que, em futebol:
      a) o planejamento tático está sujeito à interferência do acaso.
      b) a lógica rege as jogadas.
      c) a inteligência dos jogadores é que decide o jogo.
      d) os momentos iniciais decidem como será o jogo.
      e) a dinâmica do jogo depende do planejamento que o técnico faz.
      135. No texto, a comparação do campo com um quadro negro aponta:
      a) o pessimismo do tático em relação ao futuro do jogo.
      b) um recurso utilizado no vestiário.
      c) a visão do jogo como movimento contínuo.
      d) o recurso didático preferido pelo técnico Tim.
      e) um meio de pensar o jogo como algo previsível.
      136. As expressões que retomam, no texto, o segmento "o melhor momento do futebol" são:
      a) os times ficam perfilados - aí
      b) é quando - então
      c) aí - os jogadores se movimentam
      d) o tático pode olhar o campo - aí
      e) é quando - começa o jogo
e.      em Cuba e na Costa Rica os Institutos de Resseguros camuflam seus prejuízos.


     Encontro
      Meu pai perdi no tempo e ganho em sonho.
      Se a noite me atribui poder de fuga,
      sinto logo meu pai e nele ponho
      o olhar, lendo-lhe a face ruga a ruga.
      Está morto, que importa? Inda madruga
      e seu rosto, nem triste nem risonho,
      é o rosto antigo, o mesmo. E não enxuga
      suor algum, na calma de meu sonho.
      Ó meu pai arquiteto e fazendeiro!
      Faz casas de silêncio, e suas roças
      de cinza estão maduras, orvalhadas
      por um rio que corre o tempo inteiro
      e corre além do tempo, enquanto as nossas
      murcham num sopro fontes represadas.
      (Carlos Drummond de Andrade. Reunião. 10 livros de poesia.
      Rio: José Olympio, 1971. p. 193)
      1. A sugestão expressa no primeiro verso do poema indica que o poeta e seu pai estão:
      a) separados no tempo e no espaço
      b) separados apenas no tempo
      c) separados apenas no espaço
      d) perdidos sem conseguirem encontrar-se
      e) próximos de um encontro definitivo
      2. Os termos "vida" e "morte", no texto, estão expressos nas palavras:
      a) fuga e noite d) madruga e triste
      b) olhar e ruga e) suor e calma
      c) tempo e sonho
      3. Segundo o texto, uma das possibilidades que se pode determinar na noite, é que ela:
      a) facilita a vontade de fugir
      b) permite o uso da razão
      c) consegue ampliar a visão da realidade
      d) oferece a chance de o indivíduo compreender-se
      e) propicia o exercício da imaginação
      147. Pode-se perceber que o texto trata do poder transfigurador da poesia. O verso que expressa isso é:
      a) "Está morto, que importa? Inda madruga"
      b) "e seu rosto, nem triste nem risonho"
      c) "Ó meu pai arquiteto e fazendeiro"
      d) "e corre além do tempo, enquanto as nossas"
      e) "murcham num sopro fontes represadas"
      4. De acordo com o texto, a figura do pai está marcada pela condição de:
      a) cansaço d) alegria
      b) placidez e) tristeza
      c) velhice
      5. Em todas as partes do texto, indicadas abaixo, há elementos suficientes para indicar as atividades que o pai exercia, exceto:
      a) "Está morto que importa? Inda madruga"
      b) "e seu rosto, nem triste nem tristonho"
      c) "E não enxuga / suor algum, na calma de meu sonho"
      d) "Ó meu pai arquiteto e fazendeiro!"
      e) "Faz casas de silêncio, e suas roças / de cinza estão maduras"
      6. A condição em que o poeta diz encontrar seu pai pode ser caracterizada por todos os termos abaixo, exceto:
      a) "casas de silêncio" d) "rosto antigo"
      b) "perdi no tempo" e) "roças de cinza"
      c) "está morto"











     O HOMEM ENERGÉTICO
      Imagine uma cidade antiga, sem energia elétrica. Vamos passear por ela, à noite. As ruas completamente escuras. Com um pouco de sorte, poderá haver um luar agradável, permitindo enxergar o contorno das casas e a torre da igreja.
      Na sala de uma casa qualquer, após o jantar, um grande lampião de gasolina ilumina todo o ambiente. Produz uma luz intensa, muito branca, por causa de uma pequena rede de titânio que envolve a chama. Esta, aquecida, emite uma luz muito mais forte e clara que a chama tremeluzente amarelo-avermelhada de um simples lampião de querosene ou de uma lamparina.
      Nessa sala, cada membro da família se entrega a um passatempo favorito: tricô, vitrola de corda, jogo de cartas, leitura. Não existe televisão, rádio, videofilmes ou outros passatempos eletrônicos. Tampouco a enorme variedade de eletrodomésticos que substituem o esforço físico na realização dos trabalhos de rotina.
      Sem muito que fazer, dormem demasiado cedo. A falta de luz castiga a vista; é grande o consumo de querosene, de gasolina e de velas. Toda atividade é penosa. Durante a noite, fica acesa apenas uma ou outra lamparina. O silêncio é completo. Não existem buzinas nem roncos de motores acelerados. Ouve-se apenas o ruído compassado dos cascos ferrados de cavalos batendo nas pedras do calçamento.
      Parece uma cidade fictícia, mas não é. É São Paulo do século passado. O Brasil teve sua primeira usina hidrelétrica em 1889. Em 1900, quando começaram os bondes elétricos, em São Paulo já existia gerador a vapor. Próximo de 1930, era, preponderantemente, a gás a iluminação das ruas. Nas casas, a eletricidade era empregada apenas para acender umas poucas lâmpadas.
      Como as locomotivas, as máquinas industriais eram movidas, principalmente, a vapor obtido de grandes caldeiras aquecidas pela queima de carvão inglês. De manhã, ouviam-se os apitos emitidos pelas caldeiras das fábricas, anunciando a hora da entrada para o trabalho. À tarde, os acendedores de lampiões, funcionários públicos, acendiam os postes de iluminação da cidade.
      Para uma pessoa nascida no final deste século, é difícil sequer imaginar a vida na cidade sem eletricidade. Quase não se vê uma casa, modesta que seja, sem ter sobre o telhado, uma arborescente antena de televisão e, na cozinha, pelo menos um liquidificador. É o progresso, dizemos. Sem energia, não há civilização, não há desenvolvimento!
      O controle de várias formas de energia deu ao homem um enorme poder sobre a natureza - de construir ou destruir. O progresso dos últimos cem anos foi superior ao que aconteceu nos cinqüenta séculos da conhecida história da humanidade.
      Esse progresso mecânico, porém, baseados apenas no domínio da energia, pode ser sempre considerado benéfico à espécie humana? Foi o resultado do real aumento da inteligência ou da capacidade de compreensão humana? Não poderá o emprego das diversas fontes de energia, em larga escala, gerar algum prejuízo, alguma conseqüência negativa para a própria natureza?
      (Adaptado de BRANCO, Samuel Murgel. Energia e Meio Ambiente. São Paulo. Moderna, 1991, Coleção Polêmica)
      1. De acordo com o texto, pode-se afirmar que:
      a) o progresso só traz conseqüências benéficas à humanidade.
      b) a tecnologia, ao lado bem, pode trazer o mal.
      c) o homem possui inteligência para somente produzir o bem.
      d) as técnicas humanas nem sempre são bem entendidas por todos.
      e) jamais o homem, usando a eletricidade, proporcionará apenas o bem.
      2. O texto afirma que:
a.           com o progresso, a cidade de São Paulo, não mais viveu na escuridão.
b.           uma cidade sem eletricidade não proporciona o conforto de hoje.
c.            um paulistano de hoje, nem imagina sua cidade sem eletricidade.
d.           a energia elétrica resolveu todos os problemas dos paulistanos.
e.           as fontes de energia são a salvação do homem de hoje.
      3. Pelo texto, pode-se concluir, unicamente, com certeza, que:
      a) a história da humanidade é conhecida há pelo menos 5000 anos.
      b) a eletricidade apenas foi conhecida no final do século XX.
      c) o homem não consegue viver sem as fontes de energia elétrica.
      d) sem energia elétrica, não há progresso humano.
      e) as antenas de TV indicam progresso em benefício da humanidade.
      4. Na antiga cidade de São Paulo, antes da chegada da energia elétrica, vivia-se, segundo o texto:
      a) com mais intensidade familiar, no ambiente doméstico.
      b) com problemas de visão, decorrentes da falta de luminosidade.
      c) sem ilusão e fantasia, porque não havia videofilmes.
      d) sem fraternidades, porque cada família se fechava em si mesma.
      e) com problemas de comunicação, pois as antenas eram precárias.
      5. De acordo com o texto, é válido afirmar que, na antiga São Paulo:
      a) os eletrodomésticos substituíam o esforço físico.
      b) à noite, pela falta de luz elétrica, nada se podia ver ou enxergar.
      c) apenas o querosene iluminava as casas de seus habitantes.
      d) a luz proveniente da queima do querosene era a mais forte de todas.
      e) por não existir muita atividade à noite, dormiam cedo.
      6. Os bondes elétricos começaram a transitar em São Paulo:
      a) na terceira década deste século.
      b) no ano em que surgiu, em São Paulo, a primeira usina hidrelétrica.
      c) no ano em que foi descoberta a energia elétrica.
      d) após a iluminação das ruas com a energia elétrica.
      e) no último ano do século XIX.
      7. De acordo com o autor, com o controle de várias formas de energia, o homem sentiu-se de posse de enorme poder que permite:
      a) dominar o mundo.
      b) propiciar a toda humanidade mais conforto e progresso.
      c) iluminar as cidades e mover as fábricas e veículos.
      d) construir e destruir.
      e) atuar na sociedade, diminuindo a distância entre as classes.
      APELO
      "Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
      Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite e eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda.
      E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero da salada - o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor". (DALTON TREVISAN)
      1. Assinale a opção que contém a frase que justifica o título do texto:
      a) "Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou."
      b) "Toda a casa era um corredor deserto."
      c) "Acaso é saudade, Senhora?"
      d) "Que fim levou o saca-rolhas?"
      e) "Venha para casa, Senhora, por favor."

      2. Considerando o sentido geral do texto, a significação de esquecido em esquecido na conversa de esquina, é:
      a) não lembrado por Senhora
      b) entretidos com os companheiros, na esquina
      c) afastado da sensação de ausência de Senhora
      d) absorto pela falta da mulher
      e) pensativo por causa da conversa na esquina

      3. Assinale a opção que justifica a afirmativa Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, (...):
      a) A quebra da rotina traz a sensação de liberdade.
      b) A relação amorosa estabelece limites para a liberdade de cada um.
      c) A sensação de liberdade faz falta a algumas pessoas.
      d) O estranhamento causado pela ausência do ser amado é acentuado pela rotina.
      e) O novo tem um apelo encantatório, que afasta o sentimento de ausência.

      4. Dimensionando-se a questão do tempo em Não foi ausência por uma semana, pode-se afirmar que essa ausência:
      a) durou mais de um mês
      b) tinha durado sempre apenas uma semana
      c) começou a ser vivenciada após uma semana
      d) só foi percebida durante uma semana
      e) foi notada a partir do vigésimo nono dia

      5. A marca da Senhora está contraditoriamente impressa em fatos que correm na sua ausência. Assinale a opção imprópria para exemplificar o que se afirma nesta questão:
a.           "não senti falta"
b.           "o leite primeira vez coalhou"
c.           "a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada."
d.           "o canário ficou mudo"
e.           "Não tenho botão na camisa"

      6. O caminho do homem pela mulher agora ausente manifestava-se através da(s):
      a) falta de botão na camisa
      b) bebida partilhada com os amigos
      c) conversa demorada na esquina
      d) presença aconchegante ao fim da jornada
      e) discussões sem importância às refeições

      7. No texto, o primeiro sinal do sentimento da ausência da mulher é indicado pelo trecho:
      a) "o batom ainda no lenço"                          d) "o canário ficou mudo"
      b) "a imagem de relance no espelho"              e) "eu ficava só"
      c) "o leite primeira vez coalhou"

      8. O penúltimo período do texto dimensiona o papel de Senhora na família. Assim, ela pode ser definida como:
      a) sublevadora                         d) dominadora
      b) apaziguadora                       e) impostora
      c) sofredora

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